CONFISSÕES nada ADOLESCENTES....

CONFISSÕES nada ADOLESCENTES - 10

SOU CONTRA, SIM!

Por Márcia Vieira

Mas é apenas uma opinião. Assim como outros são a favor e eu respeito a opinião destes. Perguntaram-me porque não fiz referência aqui ao Dia da Consciência Negra. É um assunto controverso, mas não costumo fugir da raia quando solicitada a emitir opinião. Sou contra, sim. Porque sou branca e não senti na pele as dificuldades históricas? Não. Porque não acho  que tem que existir dia da consciência negra, nem branca, nem vermelha e nem amarela. Movimentos/situações que trazem o preconceito embutido no nascedouro, a despeito de quebrá-lo. 
Porque na minha cabeça não existe diferença entre um ser humano branco, negro, amarelo ou vermelho. Existem diferenças sim, de caráter/personalidade, e elas não estão impregnadas na cor/textura de uma pele, na sexualidade, na idade, na forma do corpo. 

Existem preferências e elas devem ser respeitadas. Cada um sabe o que gosta e o que quer. Tem gente que gosta de pele branca;Tem gente que gosta de pele negra. Tem gente que gosta de pessoas magras, mas tem gente que gosta de pessoas gordas. Tem gente que gosta de cabelo liso e outros gostam de cabelo crespo. Tem gente que gosta de pessoas que tem cérebro ativo; outros gostam de quem não exercita a mente. Tem gente que gosta de literatura, mas tem gente que não gosta de ler. Tem gente de bom gosto, tem gente de mau gosto, mas tudo é apenas uma questão de gosto. Tem gente que gosta de fazer escolhas; Tem gente que não escolhe nada. Tem gente que aprecia a verdade; Tem gente que prefere ouvir mentira. Tem gente espírita, gente católica, gente evangélica, gente ateu, gente agnóstico. Tem gente que não é gente; Tem animal que é muito mais gente. Tem gente que gosta de amarelo; Tem gente que gosta de rosa. Tem gente que gosta de careca; Tem gente que gosta de cabeludo. Tem gente que gosta de sexo; Tem gente que é assexuada. Tem gente que gosta de poucos e bons amigos; Tem gente que gosta de muitos e maus amigos. Tem gente que gosta de qualidade; Tem gente que gosta de quantidade. Tem gente de opinião; Tem gente que segue o que pensa a maioria. Tem gente que vai à Grécia;Tem gente que vai à Las Vegas. Tem gente que gosta de museus; Tem gente que gosta de noitada. Tem gente que gosta de rock progressivo/pop rock ou MPB; Tem gente que gosta de funk e axé. Tem gente que gosta de filmes de suspense; Tem gente que gosta de ficção científica. Tem gente que é passional; Tem gente que não tem paixão por nada. Tem gente generosa; Tem gente egoísta. Tem gente que fica feliz com a felicidade dos outros; Tem gente que só se sente feliz com a infelicidade de outrem. Tem gente corajosa; Tem gente covarde. Tem gente que nasce pra brilhar; Tem gente que nasce pro ostracismo. Tem gente que é assediada; Tem gente que assedia. Enfim, tem todo tipo de gente. Todos, brancos, negros, pardos, vermelhos, amarelos, roxos, todos, estão em todos os cantos.Iguais em questão de deveres e direitos. Todos devem se impor, como seres humanos que são, caso sejam desrespeitados em seu direito sagrado de existir; de ir e vir. Portas não devem ser fechadas, oportunidades não devem ser exclusivas e excludentes. Portanto, meu raciocínio segue a máxima de que "todos são iguais perante a lei". A criação de uma data específica para comemorar o "Dia da Consciência Negra" e por causa disso, decretar feriado, aos meus olhos fere o suposto princípio de igualdade. Ao contrário, instiga o preconceito e convida a um caminho deficiente e perigoso, muito longe de ser corrigido, se levado adiante. 

Além disso, outras questões que atentam para esta data são bastante confusas. Por exemplo: o funcionalismo público não entra em campo, mas o comércio sim. As pessoas não saem para comprar, pois não querem se arriscar a dar com a cara na porta, o que é bem possível. Fica aquela coisa meio do caminho, meia-boca, mais ou menos. Ou é feriado, ou não é.  Tem que haver uma decisão nesse sentido, caso contrário, as pessoas, especialmente os comerciantes, serão prejudicados. Onde todos saem perdendo, a guerra não é boa. Se o município decreta feriado, o mais sensato seria o comércio seguir a regra, já que abrir as portas e ficar às moscas sai ainda mais caro. Entretanto, acho que o sensato mesmo, é que as comemorações continuem a existir, mas sem a obrigatoriedade de parar o país ou a cidade para buscar algo que já é de direito do ser humano: respeito!

Não quero aqui desmerecer a luta de ninguém, porém, tenho ressalvas à ideia de que "o feriado é mais uma conquista". Na prática, o que se conquista com isso? Muda, de fato, alguma coisa? Consciência é algo que se vive diária e continuamente. Não adianta escolher uma data, se não se muda a postura  para enfrentar os percalços. Colocar-se em posição de inferioridade ou superioridade é danoso. 

Aí me perguntam, "então você não tem nenhum preconceito?". Respondo: "Tenho sim. Não os que muita gente tem, como preconceito de cor, raça, sexo, classe social. Outras situações, pela  minha ótica. Se pode ser chamada de preconceito? Não sei. Talvez!"

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