TEXTO CONVIDADO: ALBERTO SENA

TEXTO CONVIDADO: ALBERTO SENA

DESNUDAR A FACHADA DOS PRÉDIOS

Alberto Sena

Eis uma boa ideia. Poderá dar feição nova ao centrão de Montes Claros, desnudar a fachada dos prédios, padronizar ou senão reduzir o tamanho das placas comerciais para a fachada aparecer com toda beleza e esplendor.
Eis uma medida com o meu apoio explícito, se é que o meu apoio vale de alguma coisa. Acho até uma questão de boa educação e respeito para com todos nós, montesclarinos ou não, agredidos visualmente por essa quantidade de placas que torna a cidade feia.
Montes Claros não é cidade feia. Possui ruas estreitas, mas é porque nasceu duma fazenda de Antônio Gonçalves Figueira. E de lá pra casa nunca teve um Plano Diretor para cuidar do traçado urbano. Houve uma tentativa com o prefeito Antônio Lafetá Rebello. Só.
Nem posso falar muito sobre como estão os prédios do centrão de Montes Claros porque estou ausente já faz um tempão, mas ainda deve haver prédios com fachada inteira original, e muitas delas com arquitetura de época, de quando Montes Claros foi  internacional com os seus cassinos que atraíam gente de todos os cantos e principalmente mulheres ávidas por dinheiro. Mas isso é outra história.
Uma campanha municipal pela revelação da fachada dos prédios de Montes Claros pode estar embrionariamente ligada à série “Caminhando e Clicando”, do jornalista Itamaury Teles, que flagrou, num clic, a beleza da fachada “de um antigo prédio da Rua Presidente Vargas” (ex-Rua XV do “footing” montesclarino).
De fato, como constatou Teles, “a fachada revela sua beleza de há muito escondida e que merece ser preservada. Faz bem aos nossos olhos uma nesga que seja da velha cidade ainda remanescente em nossas memórias saudosistas”.
Pelo que pude acompanhar daqui da caverna do Maciço do Espinhaço, em Grão Mogol, a ideia já está repercutindo em Montes Claros. Hamilton Trindade é um dos que já se pronunciaram a favor. Ele até sugeriu fazer “uma cruzada para que se desnudem as belas e históricas construções no centro de Montes Claros com placas menores sem se esconder as belezas arquitetônicas”. Quem aderisse receberia incentivo no pagamento dos impostos municipais e, quiçá, nos estaduais.
O importante é levar avante a ideia e formalizá-la por meio de um projeto devidamente estruturado, porque já faz um bom tempo Montes Claros vem ganhando ares de capital. De direito ainda não, mas de fato a cidade é a capital do Norte de Minas. Mas em suas ruas estreitas estão escondidos restos de belezas antigas e poderiam ser mostrados até para realimentar a memória e estimular o turismo.
O prédio cuja fachada foi desnudada fica próximo de onde era o Viche – ou era Vixe? – um dos bares precursores de uma onda romântica e por isso mesmo gostosa da década de 60. Pena que durou pouco tempo. Era uma casa pintada de branco com janelas e portas azuis, recuada do portão de entrada, na Rua Presidente Vargas. As mesas e cadeiras foram colocadas nessa área e ali casais namoravam tomando caipirinha. Um lugar gostoso.
Na minha singela opinião, o assunto merece ser tratado em reunião de pauta dos jornais, das rádios e das TVs de Montes Claros. As placas escondem as belezas arquitetônicas dos prédios. Se a mídia montesclarina adotar a ideia, logo será realidade. E nos dará gosto ver a fachada dos prédios ao redor da Praça Dr. Carlos. Vai melhorar muito a cara da área.
Talvez fosse o caso de avançar mais. Pensar em tombar todos os prédios antigos de Montes Claros. Com o tombamento, muitos deles teriam o condão de mostrar traços de uma época em que a cidade era branda. Impossível impedir o desenvolvimento. Mas é preciso pôr ordem nisso. Por uma questão de postura.
Tomara vingue a ideia de desnudar a fachada dos prédios. Se depender de mim, filho da terra sempre amada de perto e de longe, agora nem tão longe quanto antes. Qualquer coisa nesse sentido pode contar comigo. Irei armado de caneta e papel. Se for preciso irei até de gravador em punho, para, juntamente a outros que comungarem da ideia, transformar o visual do centrão de Montes Claros. Para o bem da memória coletiva e satisfação pessoal dos que aqui estão e dos que nascerão nesta terra de Figueira.

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