CALOTE NA EDUCAÇÃO - ENTENDA O CASO


CALOTE NA EDUCAÇÃO 

Entenda o caso 

Depois de mais de 20 dias lutando para receber os salários, o drama dos professores da Rede Municipal de Ensino parece caminhar para uma solução. O chamado "Calote na Educação" foi protagonizado pelo prefeito Humberto Souto, que deixou os professores sem os salários do mês de novembro e o décimo terceiro. O assunto ganhou repercussão depois que Souto foi "incomodado" com a cobrança. 

A intenção do prefeito, reiterada em diversas entrevistas, era a de pagar os professores somente após o repasse do Governo Estadual, por meio do Fundeb. Entretanto, os professores, que são funcionários do município e não do Estado, iniciaram manifestações e caminhadas pelos órgãos públicos para mostrar a população a atitude abusiva do chefe do Executivo. 

A prefeitura está com os cofres cheios e o dinheiro público, de acordo com o Tribunal de Contas, deveria ser utilizado para pagar os professores. Desse modo, o argumento de esperar o repasse do Fundeb caiu por terra. Com base na recomendação do TC, muitas prefeituras utilizaram do expediente para pagar os funcionários, mas o prefeito Souto se negava a quitar a dívida.

Professores passando necessidade, sem alimentação, sem transporte e com contas atrasadas, entraram em desespero e começaram a pedir ajuda para sobreviver. Havia a intenção de iniciar uma campanha de arrecadação de alimentos e pedir apoio das entidades de classe, algumas que até participaram da campanha do prefeito de maneira discreta, mas sabida por toda a sociedade, como por exemplo, membros da maçonaria. Nem assim o prefeito se moveu. Em duas ou três reuniões, recebeu apenas alguns dos professores e reiterou a intenção de não fazer os pagamentos, dizendo que "a responsabilidade não era dele".

A cada declaração do prefeito, que usava rádios e TVs para reforçar sua posição, aumentava a revolta dos professores e da população de Montes Claros que aderiu aos protestos em apoio aos professores. Na última reunião da Câmara, 20 de dezembro, os profissionais da educação e apoiadores compareceram ao local munidos de cartazes e gritando pelo socorro dos vereadores. 

No dia anterior, alguns vereadores estiveram no gabinete com Humberto Souto e segundo informações de pessoas que participaram da reunião, eles foram dissuadidos da ideia de defender os professores ou pleitear o pagamento dos meses trabalhados. "Ele mandou vereadores calarem a boca e parar de tomar partido dos professores", disse uma educadora.

A divulgação dos fatos em redes sociais e veículos de comunicação que não tem vínculo com o prefeito, trouxe a tona uma das faces mais cruéis do Executivo.  Em vão, a assessoria de comunicação tentou limpar a imagem do prefeito. Já era tarde. Estrago feito, a cada movimento da assessoria, o desgaste aumentava.

Funcionários da comunicação da prefeitura, contratados com dinheiro público para agredir opositores da administração, usaram as redes sociais em horário de trabalho para agredir adversários e tirar o foco. Entretanto, os fatos devidamente registrados no momento em que aconteciam, fizeram cair por terra as desculpas. Choro, rezas e até um abraço simbólico ao prédio da prefeitura fizeram parte dos longos dias de manifestação.

Estranhamente, deputados eleitos aliados do prefeito, que durante a eleição tiraram fotos e fizeram campanha dentro da prefeitura, permaneceram em silêncio, mesmo fazendo parte dos grupos que a assessoria usava para propagar agressões. Muitos deles tiveram os nomes citados pelos professores durante as manifestações. "Onde estão vocês?", perguntavam os educadores em coro. 

Não bastasse isso, a assessoria divulgou na quinta-feira, 20, que todos os servidores do município haviam recebido o décimo terceiro. Mais um tiro no pé, com a revolta dos profissionais da educação, que se sentiram preteridos, já que estavam passando fome, enquanto os secretários e cargos comissionados, que já tem altos salários, foram "escolhidos" para receber.

Mais informações vindas da própria prefeitura sustentavam que a esposa de um secretário, também da área da educação, teve o seu salário depositado em dia, por um "erro do sistema".
Ao chegar a prefeitura, o carro do secretário foi cercado pelos manifestantes que cobravam uma explicação.

MAIS DESGASTE

"O calote da educação", como ficou conhecido o dramático episódio, passou a ser do conhecimento de todos e o prefeito, que já estava desgastado diante da inércia da administração, foi catapultado ao posto de "pior prefeito da história de Montes Claros", mesmo antes de encerrar a sua administração. 

Cansados de esperar por uma solução, na última quinta-feira, 20, os professores saíram da Câmara em direção ao gabinete do prefeito. A ocupação não tinha dia e hora para terminar. Os profissionais decidiram que ficariam ali até o dia em que o prefeito depositasse o dinheiro devido.

Por volta das 13h, sem poder circular no gabinete, o prefeito decidiu receber uma pequena comissão de professores, com a presença de alguns vereadores, para dar uma solução. Em seguida veio a informação de que o prefeito teria feito uma proposta aos trabalhadores para que eles assinassem um documento abrindo mão do décimo terceiro e deu o prazo até as 17h para eles decidirem. A notícia vazou, chegou as redes e o prefeito Humberto mais uma vez, teve que rever a sua posição.

Por volta das 19h, depois de exaustiva discussão e até ameaças veladas, de acordo com informações dos professores, chegou uma liminar determinando ao prefeito que ele deveria quitar o débito com os professores, sob pena de ter as contas bloqueadas, caso não cumprisse a ordem judicial.O prefeito então teve que "aceitar" e se comprometeu a fazer o pagamento até o natal (24/12).  

Ao final da negociação, em mais uma tentativa vã de limpar a imagem do prefeito, a assessoria volta as redes para dizer que o prefeito fez um acordo para "beneficiar" os professores. Junto ao pequeno texto, divulgaram imagens de professores sorridentes ao lado do prefeito, para ludibriar a população e passar uma imagem equivocada sobre a indignação dos profissionais. Em nenhum momento falam da verdadeira motivação da negociação. Pagar os professores não foi uma escolha do prefeito. Foi uma determinação da justiça. 
 
E caso o dinheiro não entre na conta dos professores até a data marcada, nova ocupação já está marcada. Desta vez, com mais adesões. Ainda que o prefeito esteja em terras estrangeiras, em mais um período de férias, em viagem que já está marcada. De lá, lendo um livro, dançando tango ou comendo alfajor, terá notícias e será notícia em rede internacional, prometem os professores!






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