TEXTO CONVIDADO: MARA NARCISO

Texto Convidado: Mara Narciso

Não percebi que seria uma competição

Mara Narciso

As vivências nos vão tornando experientes e com noções de Psicologia. A competição, quando normal (o que vem a ser normalidade?), seria um estímulo para melhorar. Ao mesmo tempo pode ser decepcionante, como na experiência desse menino nascido no norte de Minas, e, estudando em Belo Horizonte, sobressaiu-se. Muito esforçado, acabou tirando, como média final, o segundo lugar da sua turma. Quando contou ao pai, este deu de ombros e lhe perguntou hostilmente: lá não tinha primeiro lugar?

No esporte é assim, enquanto o vitorioso sobe ao pódio, o perdedor chora a derrota. Alguns recomeçam o treino antes dos demais para obter melhor resultado da próxima vez, caso houver. Alguns se contundem gravemente e precisam parar. Ainda que o esporte de alto desempenho seja uma guerra sanguinária, há exceções e pessoas perdem posições para ajudar competidores em apuros, numa cena humanizada da disputa.

A vida é uma sequência de combates em todas as áreas humanas. Até mesmo nas loterias. Quando alguém ganha, alguém perde. Ainda que em negócios possa parecer ter tido dois ganhadores, caso a transação seja boa demais para um lado, o outro poderá ter sido prejudicado.

Em relação ao trabalho, se alguém lucra, em detrimento do outro, que produz a riqueza, gera desalento no perdedor. É dolorosa a consciência de ser peça importante da engrenagem e ficar na penúria, roendo ossos, enquanto alguém come a carne de primeira.

Irmão que se digladia em busca de destaque familiar não costuma resultar em boa coisa, pois, além de desafeição, o vencedor da contenda desperta ciúmes e até ódio nos demais.

Entre amigos, a concorrência ferrenha, em que se compara o incomparável, poderá gerar inimizades, portanto melhor não concorrer com quem deveria, em tese, incentivá-lo. O bom amigo ri junto e chora junto. Não compete. Caso você não se sinta engrandecido com vitórias dos amigos, olhe para dentro de si e analise seu caráter.

Nos relacionamentos afetivos, quando há amor, as disputas internas não deveriam ter lugar. Nas externas, nos triângulos amorosos, o comum é um dos três ser jogado para fora, ser o grande perdedor, mas há trios amorosos que perduram e até dormem na mesma cama. Dentro do casal, quem quer ser maior e melhor do que o outro, na verdade quer que o outro seja menor e pior. Quem se sente o mais lindo, o mais inteligente, o mais capaz humilha o cônjuge, na tentativa de aparecer. Esse tipo de comportamento, quando se repete, destroi o que ainda havia de bom. A gana de ter razão é o caminho mais curto para a ruptura.

No embate de pontos de vista, especialmente em tempos de Brasil Polarizado, é preciso serenidade para entender o outro, não menosprezar o mensageiro, detendo-se apenas no desarme da ideia. Combater o bom combate é saber ouvir, antes de argumentar, é primar pela verdade e ver todos os lados, consultando mais de uma fonte, desde mídias tradicionais até mídias alternativas. Quando ninguém está comprando versões, e os comerciais bancam o que está ali exposto, a verdade checada e confirmada deve estar em cena. O interesse da mídia, qualquer que seja ela, é ser acreditada. Confiança perdida é para sempre. A esgrima de ideias é importante na manutenção da liberdade, autonomia e democracia, mas de forma exagerada leva gente à guilhotina. Uma solução para as brigas mais pesadas: afastar-se da fonte de desavenças, porque se calar também é uma forma de vencer a discussão.

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