TEXTO CONVIDADO:MARA NARCISO

TEXTO CONVIDADO: 
MARA NARCISO

Vem dançar comigo?
 Mara Narciso

Na década de 1970 as festas de 15 anos aconteciam na casa da debutante. Comparadas aos megaeventos de hoje na mesma classe média, a singeleza da comemoração estaria bem aquém dos ensaios de hoje. Sofisticaram-se. Naquele tempo as meninas-moça (esse termo era usado para essa faixa etária) ensaiavam com as amigas os primeiros passos de dança para não fazer feio na comemoração. As moças ficavam sentadas, aguardando um rapaz vir chamá-las para dançar, geralmente músicas internacionais lentas que se eternizaram na memória dos jovens de então. Ouvir tais músicas hoje é certeza de saudade e a ilusão de achar que ser jovem naquele tempo era melhor do que sê-lo agora.

A inibição e insegurança eram a tônica de dançar aos pares para essa turma de 14 a 18 anos. Havia todo um ritual e a vergonha de a moça ser ignorada, ou o medo de o rapaz ser rejeitado. Era preciso colocar uma distância entre os corpos, pediam as mães. Quem dançava desenvolto era alcunhado de “pé de valsa”. A música lenta criava um clima apaixonado e o casal nem saía do lugar. A dança começava a pedido do rapaz e terminava a pedido da moça, que deveria evitar dançar muitas músicas. A demora significava interesse em namoro. Nesses casos, quando acabava a festa, que não ultrapassava a meia noite, já se marcava um cinema. Os casamentos começavam assim, dançando.  As festinhas, chamadas hora dançante terminavam ainda mais cedo. Alguns pais buscavam a filha, enquanto muitas só saíam com o irmão.

As músicas mais aceleradas eram dançadas com o casal separado, uma maneira que exigia maior confiança para sacudir o corpo, criar uma coreografia e girar pelo salão. Era quando os mais extrovertidos davam seu show num rock acelerado. A norma de dançar separado foi mais frequente após 1978, época do filme “Nos embalos de sábado à noite”, com John Travolta e a total liberdade para se dançar do jeito que se quisesse pelos salões “Discoteque” afora. Pouco depois, pululavam Academias de Ginástica e sua aeróbica, que davam mais molejo e desinibição transferidos aos salões de dança. Uma coisa se ligava diretamente à outra, pois a ginástica aeróbica dá resistência física e segurança.

As escolas de dança e a dança de salão não saíram de moda e muitos casais vão aprender a dançar para reduzir o tédio dos relacionamentos antigos. Parecem se divertir nessas investidas. Também há por toda a cidade os bailes públicos, mais procurados pelas pessoas maduras em busca de distração e companhia. Há várias alternativas, paga-se na entrada e se desfruta de música ao vivo, lenta, típica para dançar aos pares, podendo ali começar um romance.

Entre as danças específicas, o flamenco, de origem cigana entre os espanhóis, exige atenção e fina coordenação motora, pois a sequência de sapateados envolve algo de matemática, especialmente quando um passo acontece num ir seguido de um vir, de trás para frente. Praticá-lo desenvolve força, equilíbrio, ritmo, consciência corporal e musical. O resultado é uma dança forte nos pés e suave nos braços, no caso da mulher, e viril para os homens. A música transforma e quando se junta com dança está formado o par perfeito.

A internet e programas como a “Dança dos Famosos” de Fausto Silva mostram exímios dançarinos, despertando inveja e a vontade de seguir a música, deslizando pelo cenário como aqueles casais. Desperta o desejo de adquirir habilidade para usufruir os benefícios da dança. Guarde a inibição na gaveta, desenvolva seu despertar musical, siga a música e vá flutuar dançando. Para não dançar na vida, vá bailar ao invés de se perder.

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