CONFISSÕES nada ADOLESCENTES - VI
Eu VOU com NOÉ....e você?...
Por Márcia Vieira Yellow
Definitivamente não pertenço a este mundo...Ou este mundo
não me pertence mais!!! Importante “bater em retirada” na hora certa. De minha
parte, estou pronta! Aguardo o sinal pra ir, sem remorsos, sem culpas, sem
achar que devo ou que alguém me deve.
Vocês ainda tem algo a fazer por aqui? Eu não! Já cumpri a
minha função, já fiz a minha parte, e vou sim, direto pro céu. Nem vou passar
pelo umbral, porque o combustível não permite fazer escalas...E não vou
antecipar nada (porque neste caso teria que passar pelo umbral e fazer
estágio), apenas declaro que “estou
pronta” pra ir a hora que Noé quiser dar a arrancada. E eu vou de arca mesmo.
Dispenso floreios e tecnologias que dilapidam o humano. Não me venham oferecer
outro meio de transporte de última geração, mesmo que eu tenha convicção de que
esta geração é realmente a última,
porque se não for, coitados os que ainda virão!!! Lamento por eles e não quero
estar aqui pra assistir.
Ora, gente, que mundinho mais doido é este aqui? Assaltos
sincronizados e bem planejados, com o plano tático bem detalhado na internet (imagino que seja
instrução para o caso de algum desmiolado querer fazer igual e não saber);
loucos invadindo igrejas e apedrejando imagens (de vez em quando eu fico de mal
com uns santinhos aí, mas nem por isso jogo pedra); presidentes de instituições
antes respeitadas financiando invasões e barulhos, manipulando pessoas e
mentindo descaradamente sob olhos/bocas/ouvidos inertes de uma população; comandantes de órgãos fiscalizadores recebendo e embolsando dinheiro que não lhes
pertence ao mesmo tempo que arrotam moralidade diante de toda uma cidade e
entram em guerra pra não perder o suposto poder; capitães de
“sem-qualquer-coisa” que nunca bateram um prego, reivindicando benefícios que
antes só se conseguia por meio de trabalho e o pior, sendo recebidos como
“autoridade” pela mídia desnorteada que faz qualquer coisa por uns pontinhos a
mais.
As situações são inúmeras. Prefiro parar por aqui, porque de
novo eu digo: o combustível não é suficiente pra fazer escala no umbral. Eu não
vou pra lá!!! Se ficar aqui, corro sério risco de cair em tentação, achar
que é normal e resvalar para a “loucura
dominante”, porque vejamos, não sou santa. Querem ver?
Se já quis matar alguém
um dia? Sim, especialmente se estiver naqueles dias. E não foi uma pessoa
só não.
Mas Deus me deu cérebro, então optaria
por uma tortura, que é muito mais interessante. Exemplo: tem três
pessoas que eu amarraria juntas e colocaria em praça pública para apreciação do
povo. Ora, pois se eles adoram espetáculo, eu proporcionaria um espetáculo
jamais visto. Um outro eu colocaria numa cadeira de espaldar reto, ao centro de
um auditório enorme, de preferência recém construído (ele adoraria também, pois
aguarda ansioso o auditório planejado e projeto alterado segundo as suas
convicções), mas com acesso restrito à imprensa. Só a “marrom” poderia entrar e
ficar perto dos bonequinhos de luxo, sem voz, sem palavra, sem compromisso e
sem responsabilidade. Depois de, ao longe (lembrem-se, se é marrom, fica perto,
se não, tem que ficar distante), ouvir as
mentiras, eu o faria recolher e engolir cada uma delas, sem água, sem cafezinho e sob aplausos da
platéia. Isto é, se o regimento permitir manifestação. Ah, mas quem liga pra
regimento, não é? Isso não se usa mais. Sim e não é a mesma coisa agora.
Bem, essa narrativa aí atrás está no plano imaginário por
enquanto. O que quero dizer é que não é necessário executar certas vontades, já
que as pessoas cavam a própria sepultura e depois entram nela sem precisar
fazer esforço, pois tem milhas acumuladas ao longo da existência. Exterminando
o mal e fazendo tal bem à humanidade, eu sei que seria perdoada, mas pra que?
Estes quatro elementos irão para o umbral de qualquer maneira. Ao menos eles
sabem que são do mal. Tem consciência de que são nocivos à sociedade.
E a você que está aí sem saber pra onde ir, só tenho uma
coisa a dizer: decida-se! Seja do bem ou do mal, mas não fique no meio do
caminho, porque no meio, o capitão do umbral não vai querer abduzir você e
muito menos Deus, o capitão do céu. Ambos sabem comandar, e não lidam com
bonequinhos, lidam com seres humanos cerebrados. Noé, representante de Deus,
mandou avisar que não vai demorar e quando aqui chegar, vai perguntar: “quem
são estas pessoas? Elas irão conosco?“. Eu, a
número um da fila (também tenho milhas acumuladas), candidamente responderei:
“este é do bem, este é do mal e este mais ou menos”. Os do bem irão com ele, os
do mal, para o umbral e os mais ou menos
ficarão aqui esperando a próxima arca ou o metrô de SP, porque
conhecendo o coração de Noé, sei que ele vai querer gente decidida por perto.
Juro que estou ansiosa, abrindo a janela para ver se a arca
já aponta no horizonte. Ninguém me disse, mas sei que o mundo de lá é
diferente. Tem flores amarelas de montão, muitos girassóis, muitas pérolas,
roupas limpas de bom caimento e corte, café sem açúcar e pessoas doces,
hierarquias, pais conscientes, filhos respeitosos, livros de sobra,
música boa, telas bem pintadas, filmes bons.
Lá, não se joga lixo nas ruas, não
se imputa ao outro a responsabilidade que é de cada um. Lá, pra se obter alguma
coisa, o único meio é o trabalho. Não há trocas, escambos. Lá, as pessoas são
iguais e tratadas da mesma maneira, mas mantém as suas particularidades e são
respeitadas nas suas escolhas de preferir este ou aquele ambiente sem serem invadidas
por espíritos não afins.
Lá, as pessoas
escolhem andar com aquelas que acrescentam, que acreditam ter afinidade e
não descartam o dom de existir incitando injustiças. Lá não se pode contar mentiras, porque o
mentiroso automaticamente perde espaço, credibilidade e tem que ficar na “cadeirinha
do pensamento” até descobrir o que fez de errado. E quando descobre, ele mesmo
escolhe ser punido, pra não ficar em dívida e nem ser obrigado a voltar em outra encarnação. Ninguém
quer voltar, porque lá, tem mais um monte de coisa bacana pra desfrutar:
lealdade, respeito, consideração, trabalho, lazer, colaboração, limites, educação,
solidariedade, generosidade, atitude, gentileza, gratidão, sinceridade, etc.
Lá,
ninguém joga carro em porta pra arrombar loja, ninguém invade a casa do outro
derrubando portas e janelas, ninguém joga pedra nas imagens. Todo mundo dá o
que tem e recebe o que merece. E todos vivem sabendo que também ali estão “de
passagem”.