TEXTO CONVIDADO: RAQUEL MENDONÇA....
O DIA DA MULHER É TODO DIA
* Raquel Mendonça
Em
1982, o feminismo, que é apenas a luta pelos direitos da mulher, passou
a ter e manter um diálogo mais amplo, aberto e importante com o Estado,
o que culminou com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina
em São Paulo/SP, e, em 1985, com a criação da primeira Delegacia
Especializada da Mulher! Montes Claros seguiu o mesmo rumo, criando, com
nossa participação, o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da
Mulher de Montes Claros, e a Delegacia de Combate aos Crimes contra a
Mulher, com o nome da Dra. Maria Neuza Rodrigues (da grande Guarda
Mirim!) à frente por longo tempo e trabalho!...
Já
nos anos 1960, o movimento feminista ganhava força e corpo, sendo
combatido de forma veemente e violenta pelo mundo predominantemente,
preponderantemente machista, que não reconhecia a igualdade de gêneros
e, consequentemente, os direitos da mulher, reduzindo-a a mera "Rainha
do Lar"!...
Em
1975, comemorou-se, oficialmente, o "Ano Internacional da Mulher, com
as Nações Unidas reconhecendo o "8 de março" como o "Dia da Mulher" em
1977. Porém, o "Dia Internacional da Mulher", comemorado em 8 de março
em todo o mundo, só foi assim oficializado em 1921! Mas o "Dia da
Mulher", na verdade, começou a ganhar forma, surgindo, extra
oficialmente, já no princípio do século XX, nos Estados Unidos e países
da Europa, associado a lutas femininas pelo reconhecimento de seus
direitos, respeito à sua dignidade, com a data simbolizando as sofridas
conquistas femininas - algumas sangrentas ou envoltas em labaredas -, a
origem mais forte e disseminada do "Dia" remete a um incêndio pavoroso,
ocorrido em 25 de março de 2011, em uma fábrica têxtil de Nova York,
quando aproximadamente 130 operárias insatisfeitas com a carga horária
abusiva, as más condições de trabalho e os péssimos salários morreram
carbonizadas!...
Desde
o final do século XIX, no entanto, grupos e organizações femininas
originadas de movimentos operários já se reuniam e protestavam em vários
países europeus e nos Estados Unidos, contra jornadas de trabalho
impiedosas, em torno de 15 horas diárias, e infames salários de fome! As
jornadas de trabalho desumanas e os míseros salários levaram mulheres a
greves, por condições de trabalho mais justas e dignas, melhores
salários - inferiores aos masculinos em torno de 2/3 -, assim como pelo
fim do trabalho infantil, que era também comum nas fábricas, com
protestos passando a eclodir em várias partes do mundo!...
Para
a Profa. Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela
UNB e doutoranda em História Cultural pela UNICAMP, "o 8 de março deve
ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e
para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais
ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que
já foi alcançado em vários países". Pensar que uma a cada três mulheres
no mundo já foi vítima de agressões físicas por companheiros, muitas
fatais, é, no mínimo, desolador, mais que assustador!...
O
caminho de conquistas das mulheres nunca foi fácil e continua árduo,
árido e espinhoso em muitos aspectos: na violência e virulância de cada
dia, em casas e mais casas, entre tantos e tantos casais - a frequência
de violência contra a mulher, chegando ao assassinato, entra pelo boca a
boca, canais de televisão, jornais impressos, rádios, etc, em
quantidade e circunstâncias cada vez mais assombrosas! - e nos salários
diferenciados, porque os homens - que bonito isso! Não tem a menor razão
ou graça! - ganham mais fazendo o mesmo ou menos!...
Não
podemos, nós, mulheres, por essas razões, nos contentar apenas com uma
data anual para a celebração do Dia da Mulher e manifestações em prol
dos direitos da mulher ainda negados e desrespeitados, porque, se temos
muito a comemorar, a festejar, mais ainda temos por vencer, conquistar,
superar! Os Dias Nacionais e Internacionais das Mulheres são 365 ou
todos os dias do ano, até que tenhamos todos os nossos direitos
respeitados; que a igualdade de sexos seja uma realidade; que a
violência pavorosa contra a mulher seja coisa do passado, que os
salários de homens e mulheres, em iguais cargos e funções, sejam
exatamente os mesmos! Em 1945, a ONU assinava o primeiro acordo
internacional sobre princípios de igualdade entre homens e mulheres! E
já estamos em 2016, setenta anos depois, com muitas diferenças,
preconceitos e discriminações - maiores para mulheres negras - ainda a
vencer, embora as conquistas havidas, muitas e numerosas, mas em tudo
incompletas! Direito e respeito não rimam por acaso!!!
A
luta feminina ou feminista no Brasil ganhou força marcante com o
movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conquistaram o
direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas.
Queremos mais mulheres vocacionadas para a política - e que sejam
sérias, corretas e honestas, porque de corruptos, malfeitores e ladrões o
país anda cheio! - nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas
Estaduais, no Congresso Nacional, dividindo espaço também nos Poderes
Executivos e Judiciários, quem sabe um dia meio a meio!
Aproveitamos
para parabenizar e agradecer o querido e grande Padre Bessa pela ideia
de distribuir rosas e panfletos com orientações às mulheres, em parceria
com a polícia militar, lembrando que oferecer rosa é um gesto de amor,
carinho e respeito! Fiquei muito feliz quando soube que algumas dessas
mil mulheres fizeram questão de oferecer a rosa recebida ao primeiro
homem que por elas passasse, para, assim, tentar quebrar mais um
preconceito secular: rosa não é coisa só de mulher! A natureza fez a
beleza para ambos os sexos, sem distinção alguma, senão seríamos
privilegiadas pelo menos num ponto: as rosas são nossas!
Portanto,
a cada ser evoluído e honrado do sexo oposto ofereço, neste momento,
uma rosa bem bonita não restrita a nós mulheres, em forma de
cumprimentos! Que homens e mulheres se abracem contra o desrespeito e a
insana violência!...
E
parabéns pelo Dia Internacional da Mulher, dia 08 de março, mas que a
essência das comemorações se estendam a todos os dias do ano,
calorosamente, cada dia mais forte e intensa, porque a luta não pode se
restringir a um dia, e nada mais!...
* Membro fundadora e ex presidente do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher de Montes Claros