TEXTO CONVIDADO: ALBERTO SENA
ONDE ESTÃO TODOS?
Alberto Sena
O tempo é voraz tanto quanto boca de fornalha de
siderurgia. Passamos pela vida de muita gente e o contrário é também verdadeiro.
Vamos vivendo. Vida em abundância. Mas, então, chega uma hora em que acontece
de iniciar uma revisão, inda mais quando se é estimulado a isso.
Recentemente, em Montes Claros, retornei à Rua Corrêa
Machado, onde vivi a adolescência e os primeiros anos de vida adulta. Depois de
mais de quatro décadas, o botão das recordações daquela época foi, então,
acionado.
Pergunto, e quem puder responder, por favor, faça um
comentário. Por onde anda o ex-vizinho Eustáquio, neto de Dona Tina, uma
senhora simpática, pequena na estatura física, mas de grande coração? Ela viveu
quase 100 anos. Criou Eustáquio e outros netos vindos de Francisco Sá. Nós
dividíamos nossas apreensões da adolescência.
E os irmãos Paulo e Luiz, filho do ferreiro Simeão? Moravam
na Rua Doutor Veloso, quase esquina da Rua Corrêa Machado. Quem estiver com eles,
diga a ambos, por obséquio, quase meio século depois retornei à casa onde a
família deles morava. Quando apertei a campainha quem me atendeu foi uma
senhora já de idade. Ela se identificou como sendo Alice, irmã de Paulo e de
Luiz. Deixei com ela um abraço aos dois. Nós dividimos espaço nas jogadas de
futebol, bolinha de gude e finca.
Alguém sabe me informar o paradeiro do galego Dedinho,
vizinho de Bonga, na Rua João Pinheiro? Ele era companheiro no futebol desde os
bons tempos do campo do União. Jogamos juntos no juvenil do Cassimiro de Abreu.
Depois disso nunca mais nem ouvi falar de Dedinho. Alguém saberia dele?
E Sílvio Guimarães? Irmão de Helinho Guimarães, médico.
Soube que formara em Medicina e nada mais. Sílvio foi companheiro de brincadeiras
de estilingue, até o dia em que ele, estilhaçou o para-brisa de um caminhão
caçamba do DER e deu até polícia. Com 11 anos de idade, eu e outros tivemos de ir
à delegacia de polícia para sermos apresentados ao coronel Coelho, sem ter nada
a ver com o fato.
Cadê Osmar, irmão de Geraldinha? Com ele jogava
futebol, tampinha e juntos íamos à Escola Normal, no período ginasial. Lembro
bem do cuidado da mãe dele com a roupa do filho. A camisa engomada, tanto
quanto a minha, eram coisas de mãe. Nunca mais tive notícia dele. Tomou aquele
comprimido para dor de cabeça e... Sumiu.
João Carlos Gabrich, irmão de Felipe, é outro sumido.
Tive notícia dele, recentemente, por intermédio de Felipe. João Carlos mora na
Serra do Cipó. Feliz dele. Serra do Cipó é um dos lugares mais aconchegantes do
planeta. Como João Carlos fazia um pouco de tudo: bolinha de gude, futebol,
papagaio. Era com ele e o irmão dele, Ricardo, que, creio, vive em Montes
Claros hoje, mas há muito tempo não o vejo também.
E os irmãos Roberto e Ronaldo Lima? Roberto, sei, ele
nos deixou, recentemente. Vivia em Januária. Que descanse em paz. O irmão dele,
Ronaldo, o Roxxim, tenho notícias, ele é meu amigo no Facebook. Mora em
Janaúba, aposentado do Banco do Brasil. Vivemos bons momentos, naquela época,
não foi mesmo, Roxxim?
Jésio, o que aconteceu com Jésio? Ele morava na Rua
Corrêa Machado esquina de Rua João Pinheiro. A casa nem existe mais. Tinha alpendre
e era pintada de verde escuro. Dali do alpendre divertíamos com uma ousada
brincadeira chamada “pau de bosta”. Não vou nem entrar em detalhes sobre essa
brincadeira condenável.
E Danilo? Danilo morava numa casa atrás da Rua Corrêa
Machado. Com ele passava horas jogando bolinha de gude ou, senão, empinando
papagaio. Na manhã em que meu pai morreu, 15 de janeiro de 1961, eu jogava
bolinha de gude com Danilo quando minha irmã, Lúcia, chegou me chamando. Era
para eu ir correndo. Fui.
Quem sabe do Zezinho? Ele morava quase na esquina da
Rua Camilo Prates com Corrêa Machado. Foi colega de escola e de Tiro de Guerra,
se não me engano. Morava em frente ao Juquinha, um camarada com alguma
deficiência física, mas de cabeça boa. Juquinha era o técnico dos times de
futebol armados no campo do União.
Como dizia no início deste texto, a gente passa pela
vida de tanta gente e tanta gente passa por nossa vida. É inacreditável. Duma
hora para outra a própria vida cuida de distanciar as pessoas umas das outras.
Ficaram só as recordações dos bons momentos vividos numa época em que éramos
aprendizes de felicidade.
E Cícero Bastos – Cícero Estru, por onde anda? Ele
morava na Rua Corrêa Machado. Quem sabe dele?