09/05/2017
Caos na saúde leva 80 por mês à Justiça
Márcia Vieira
Repórter
Prestes a completar 160
anos, Montes Claros vive atualmente um dos momentos mais críticos da sua
existência no que se refere à saúde pública. Recentemente o tema foi discutido
na Câmara Municipal, mas nenhuma solução foi apontada para os problemas
apresentados. O município se nega a receber de volta a gestão plena de saúde,
que hoje se encontra em poder do Estado e a negativa agrava os problemas da
área. Enquanto isso, a Defensoria Pública do Estado está lotada de processos e
a demanda de cidadãos que procuram o órgão para garantir seus direitos cresce a
cada dia.
Cerca de 80 casos urgentes chegam mensalmente à defensoria. Só em Montes Claros, são três mil processos aguardando solução.
Cerca de 80 casos urgentes chegam mensalmente à defensoria. Só em Montes Claros, são três mil processos aguardando solução.
- A justiça tem sido a única alternativa das
centenas de pessoas vítimas da irresponsabilidade da administração. O cidadão
vai até a secretaria municipal de Saúde com a receita médica e os remédios não
são fornecidos. A partir daí, eles entram com ação judicial para fazer valer os
seus direitos, mas nem assim o município tem cumprido a obrigação - alerta a
defensora pública Maurina Fonseca Mota de Matos.
ALIMENTAÇÃO E FRALDAS
Maurina revela que o
município não está entregando a alimentação suplementar e as fraldas, itens que
anteriormente não precisavam nem de processos ou de ordens judiciais para
chegar aos que necessitavam.
- Portadores de
doenças graves ou degenerativas, transplantados, crianças, idosos entre outros,
são os que mais procuram a Defensoria na tentativa de garantir o acesso aos
medicamentos, já que o município se nega a fornecê-los. Entendemos que se o
cidadão fosse atendido em tempo hábil, o município teria menos despesa, pois se
comprados em grande quantidade o valor dos medicamentos diminuiria - diz a
defensora.
SUMIÇO DE MEDICAMENTO
Maria Aparecida
Evangelista é uma das vítimas do problema. O esposo, José Nicodemos, com grave
quadro de saúde, faz hemodiálise e tem garantidos por ordem judicial os
remédios e o suplemento alimentar, essenciais à sua sobrevivência. Além de se
sentir violada em seus direitos, Maria denuncia que no único mês deste ano, em
que recebeu a caixa com o suplemento, o recipiente também havia sido violado. A
caixa deveria conter 30 unidades, mas veio com 6 a menos.
- Fiquei dois meses sem
receber o suplemento. No dia 8 de abril, estive na secretaria municipal para
tentar mais uma vez. Recebi a caixa, referente ao mês de março, mas estava
incompleta. Quando perguntei o porquê, alegaram que seis unidades estariam
vencidas. Como é que estavam vencidas se eu estive lá antes e eles disseram que
não tinha? - questiona Maria.
A cidadã revela que na
gestão anterior recebia os medicamentos no dia 28 de cada mês. Mas, agora, foi
obrigada a procurar a Defensoria Pública para garantir o alimento ao esposo.
Ela conta ainda que ao reclamar seus direitos na secretaria municipal foi
alertada por uma recepcionista de que “estaria tumultuando o ambiente”.
- Está um bagunça
essa administração. A gente chega lá e vê pessoas reclamando a falta de fraldas
e de outros vários medicamentos. Mas estão tentando tirar até o nosso direito
de reclamar. E quanto ao remédio do meu marido, dia 3 de maio estive lá
novamente e me disseram que não tinha chegado. Quero ver qual vai ser a desculpa
desta vez- desabafa Maria.
BLOQUEIO
DE CONTAS MUNICIPAIS
A defensora pública
Maurina Fonseca Mota destaca que a saúde é um direito do cidadão e dever do
poder público, e que a ação da defensoria é permanente na defesa do cidadão.
- Estamos tomando
todas as providências para garantir o cumprimento das decisões, comunicando a
situação ao juiz do caso e pedindo o bloqueio de valores nas contas do
Município para que o cidadão compre diretamente o medicamento, com a devida
prestação de contas no processo - afirma.
De acordo com a defensora,
“o prefeito municipal e a secretaria municipal de Saúde podem responder cível e
criminalmente pelo descumprimento das decisões judiciais”.
O Norte entrou em contato
com a assessoria do município, mas até o fechamento desta edição não houve
retorno. A produção também buscou contato com o Núcleo de Assistência a
Judicialização da Saúde, em Belo Horizonte, mas as ligações não foram
atendidas.