TEXTO CONVIDADO: MARA NARCISO
Micróbios
Mara Narciso
Minha avó Maria do Rosário de Souza Narciso – Dona Du nasceu no dia quatro de junho de 1910, cinco dias antes da feminista revolucionária Patrícia Galvão - Pagu. Dona Du, por ser conservadora, não alterou padrões de comportamento, mas mudou pessoas perto de si, porque era perspicaz e inteligente, compreendendo até o que não estava escrito. Sabia da existência dos microrganismos, que ela e minha mãe, que depois se tornou médica, diziam micróbios, e os combatia. Aplicava injeções na família e vizinhos, e usava o poder desinfetante do álcool e do fogo. A tudo esterilizava. Lavava as mãos muitas vezes e nos ensinou que dinheiro é sujo e após seu manuseio é preciso lavar as mãos com sabão. Caso fosse usar um urinol ou bacia ou banheira, passava álcool e ateava fogo. O convívio com microrganismos, desinfecções e vacinas fez parte da nossa educação no lar, assim como sobre os bichinhos maiores, os vermes.
Vovó era frágil, tinha asma, que chamava de bronquite e tinha pavor de gripar, pois o vírus da gripe causava falta de ar, tosse e secreções, que atraiam a infecção bacteriana secundária e favorecia a pneumonia. Pedia a quem estivesse gripado, que não a visitasse. Seus utensilios ficavam à parte e eram lavados em separado.
Os vírus são organismos acelulares pequenos e simples, com uma cápsula protéica envolvendo seu material genético, o ácido nucléico, que pode ser DNA, ou RNA ou ambos. Necessitam do hospedeiro, no qual se alojam, para se replicar. Não são células, mas parasitas delas, manifestando suas funções vitais apenas no outro ser. Podem ser sensíveis aos antivirais.
As bactérias são seres vivos microscópicos, uma célula biológica que pode ter formas redondas, alongadas ou em espiral, geralmente sensíveis aos antibióticos, difundindo-se através das mãos, secreções, excreções e líquidos humanos, invadem o corpo da vítima. Algumas gostam da parte superior, e outras preferem a parte inferior do corpo. Quando criadas em hospitais, podem adquirir resistência aos antibióticos, tornando-se intratáveis. Algumas recebem a alcunha de superbactérias, por exemplo: Klebsiella pneumoniae - KPC.
Vivenciamos ou tivemos notícia de pestes ocorridas pelo mundo, causadas pelos micróbios. Começam arrasadoras e vão perdendo a força, com o surgimento de resposta imunológica da população. A peste negra ou peste bubônica, causada pela bactéria Yersínia pestis, parasita de pulgas de roedores, exterminou um quarto da humanidade do século XIV. A varíola, causada pelo ortopoxivírus, matou 400 mil pessoas no século XVIII e está erradicada no Brasil desde 1980. A humanidade quase se extinguiu com a Gripe Espanhola, causada pelo vírus influenza subtipo H1N1, com virulência incomum, que matou, estima-se, 50 milhões de pessoas em 1918. Devido ao abandono da vacinação, o sarampo, doença viral muito contagiosa, retornou e está matando. Houve um surto de meningite meningocócica causada pela bactéria meningococo em 1974, que foi subdimensionada pelo governo ditatorial de então. Em 1981 surgiu a AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida e pessoas famosas como Betinho, Henfil, Rock Hudson, Freddie Mercury, Cazuza, Lauro Corona, Renato Russo e Sandra Bréa morreram dela. Desde então, muitas pessoas sobrevivem há décadas com o vírus HIV, tomando o coquetel antiviral. Nos primeiros surtos da dengue a pessoa ficava de cama por uma semana com febres altíssimas e pele totalmente vermelha. Agora está mais suave, ainda que casos hemorrágicos possam matar, e seus surtos não parem país afora. O vírus Zika, com clímax em 2016, e depois, menos frequente, causou microcefalia em 3112 crianças até agora. Outros quadros gripais severos atacam os humanos como gripe SARS, MERS, H1N1 e outras. Cólera, febre amarela e doença por vírus Ebola são muito graves também, e até aqui, com muitas perdas de vidas humanas.
A tragédia global do coronavírus, um exemplar de virulência e propagação sem precedentes, com seu quadro semelhante à gripe, com febre, dor de garganta, tosse e falta de ar, exige reforço de conceitos como respeito, solidariedade, serenidade e boa educação. É comum pessoas sujarem e não lavarem suas mãos, saindo por aí cumprimentando os demais. Parem de tossir nas mãos! Adquiram bons hábitos, suspendam disputas infantilizadas e façam do humanismo sua bandeira! E que a pandemia passe o quanto antes.