quarta-feira, 26 de agosto de 2015

TIROS NA MADRUGADA!

TIROS NA MADRUGADA!
 Tentativa de assalto a ônibus e medo nas estradas- Vítimas relatam pânico

Por Márcia Vieira Yellow

No dia de ontem Brasília foi palco do lançamento da Frente Parlamentar em defesa da BR 251. O evento, que teve a chancela da atuante Deputada Federal por Minas, Raquel Muniz, contou com a participação de representantes do DNIT e parlamentares de diversos partidos, todos imbuídos do sentimento de urgência que exige a situação. Sugestões, clamores e afins foram servidos aos participantes.Dependemos agora, da boa vontade do Governo Federal para solução do problema. Uma das questões apresentadas tratou da segurança nas estradas. Coincidência ou não, e digo não porque coincidências não existem, este ônibus que levou à Brasília lideranças políticas e imprensa do Norte de Minas, viveu momentos nada agradáveis no caminho de volta. 

Que viver é perigoso, ninguém duvida. Mas a cada dia, o perigo é maior para os veículos que trafegam pela estrada que liga Montes Claros à Brasília, que não é a 251, mas necessita igualmente de socorro. Neste caso, o perigo não está exatamente na parte física, mas na ausência de segurança policial e humana. Os ônibus são os alvos escolhidos pela bandidagem insone que domina a estrada nas madrugadas. E aqueles que viajam tem que contar com a proteção divina para chegar sãos e salvos ao destino, já que as polícias, chamadas a proteger e/ou socorrer, só podem atuar no caso de haver alguma vítima. Entenda por vítima, sangue jorrando aos montes ou cadáver. 

Na madrugada desta quarta-feira, Deus foi atencioso e extremamente protetor com o nosso ônibus. Mas foi Deus também quem salvou o ônibus que passou pouco antes de nós pelo caminho perigoso. Foi ele certamente quem colocou uma árvore no meio do caminho para segurar o veículo alvejado por quatro bandidos encapuzados em um gol branco, que faziam a farra na madrugada. O ônibus vinha de SP e seguia para a Bahia. Num trecho próximo à Pirapora, depois de receber cerca de seis tiros, saiu da estrada e parou numa árvore. Motorista em pânico abandonou a direção e deitou-se no chão com passageiros. Chegaram a descer do carro e espiar dentro do ônibus, mas pensando(conclusão dos passageiros) ter matado o motorista, fugiram. Aí então, os passageiros se retiraram um a um para não pesar o ônibus e permaneceram na BR a espera de carona. A 20km dali estava o nosso ônibus, estacionado num posto deserto. Tomamos conhecimento do fato por meio de um carro  que acabava de passar pelo local. Pela internet, precária, mas graças a Deus em um momento ou outro funcionando,  várias pessoas se mobilizaram em busca de socorro para o ônibus alvejado e para o nosso ônibus, que temendo o ataque permaneceu por horas no local à espera de uma ajuda que não veio. 

O modus operandi dos órgãos de socorro é incrível. Incrivelmente assustador. Ninguém, repito, ninguém, tinha jurisdição naquele trecho. Não era de responsabilidade de Montes Claros, nem de Pirapora ou João Pinheiro. Mas ainda bem, Deus tem jurisdição para atuar em todos os locais. Não fosse ele, não estaríamos aqui para contar.

Sem alternativa, seguimos viagem. Agitados, nervosos, e sempre em oração, passamos pelo ônibus tombado. Quatro pessoas ainda estavam na estrada, vigiando a bagagem dos que seguiram de carona com caminhoneiros bondosos e prestativos. Na parada seguinte, encontramos as vítimas descalças, sem agasalho e abaladas emocionalmente. O motorista havia partido para registrar ocorrência e dois policiais do local não "poderiam interferir" para não serem chamados à atenção pela PRF. Conversamos com as vítimas que se lembraram do carro branco com quatro pessoas. E devo dizer que durante nossa permanência neste posto, avistamos um carro branco circulando pela BR. Se eram eles, não iremos saber, mas sob a jurisdição de Deus, ficamos à salvo. Seguimos mais um pouco e fizemos uma parada. Ninguém tinha condições psicológicas para ir mais adiante. Acionada,  a PRF apenas lamentou o ocorrido, mas "infelizmente nada poderia fazer, já que não havia vítimas". Pensei por um momento em me tornar camicase (kamikase), assim, haveria uma vítima e a polícia enfim poderia exercer o seu trabalho e cumprir parte deste juramento: "JURO, PELA MINHA HONRA, QUE ENVIAREI TODOS OS MEUS ESFORÇOS NO CUMPRIMENTO DOS DEVERES DO POLICIAL FEDERAL, EXERCENDO MINHA FUNÇÃO COM PROBIDADE E DENODO E, SE NECESSÁRIO, COM O SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA."

No momento em que discutíamos esta possibilidade (camicase)chegou um outro ônibus e foi decidido que seguiríamos em comboio, para nos protegermos todos. Mais de duas horas depois, chegamos ao nosso destino, Montes Claros. Emocional e fisicamente exaustos, entristecidos, impotentes, mas de certa maneira agradecidos, por chegarmos às nossas casas, enquanto naquela estrada, outros passaram e provavelmente passarão por situações piores. 

Que a nossa viagem a Brasília não seja vã. Que a BR 251 não seja apenas duplicada, mas dotada de toda segurança pra não se tornar irmã da estrada que leva a capital federal. Que os nossos insistentes pedidos de socorro não atendidos e a triste conclusão  de que os órgãos de proteção na prática não funcionam, sirvam de alerta para uma mobilização pela reformulação urgente das leis prostituídas deste Brasil varonil, onde uma vida ou um ato de caridade, valem menos que uma regra instituída para atender as disputas de poder e tolas vaidades (des)humanas.


"Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele.”(Paulo Freire)