domingo, 22 de outubro de 2017

TEXTO CONVIDADO: ALBERTO SENA

TEXTO CONVIDADO: ALBERTO SENA

ONDE ESTÃO TODOS?
Alberto Sena 

O tempo é voraz tanto quanto boca de fornalha de siderurgia. Passamos pela vida de muita gente e o contrário é também verdadeiro. Vamos vivendo. Vida em abundância. Mas, então, chega uma hora em que acontece de iniciar uma revisão, inda mais quando se é estimulado a isso.
Recentemente, em Montes Claros, retornei à Rua Corrêa Machado, onde vivi a adolescência e os primeiros anos de vida adulta. Depois de mais de quatro décadas, o botão das recordações daquela época foi, então, acionado.
Pergunto, e quem puder responder, por favor, faça um comentário. Por onde anda o ex-vizinho Eustáquio, neto de Dona Tina, uma senhora simpática, pequena na estatura física, mas de grande coração? Ela viveu quase 100 anos. Criou Eustáquio e outros netos vindos de Francisco Sá. Nós dividíamos nossas apreensões da adolescência.
E os irmãos Paulo e Luiz, filho do ferreiro Simeão? Moravam na Rua Doutor Veloso, quase esquina da Rua Corrêa Machado. Quem estiver com eles, diga a ambos, por obséquio, quase meio século depois retornei à casa onde a família deles morava. Quando apertei a campainha quem me atendeu foi uma senhora já de idade. Ela se identificou como sendo Alice, irmã de Paulo e de Luiz. Deixei com ela um abraço aos dois. Nós dividimos espaço nas jogadas de futebol, bolinha de gude e finca.
Alguém sabe me informar o paradeiro do galego Dedinho, vizinho de Bonga, na Rua João Pinheiro? Ele era companheiro no futebol desde os bons tempos do campo do União. Jogamos juntos no juvenil do Cassimiro de Abreu. Depois disso nunca mais nem ouvi falar de Dedinho. Alguém saberia dele?
E Sílvio Guimarães? Irmão de Helinho Guimarães, médico. Soube que formara em Medicina e nada mais. Sílvio foi companheiro de brincadeiras de estilingue, até o dia em que ele, estilhaçou o para-brisa de um caminhão caçamba do DER e deu até polícia. Com 11 anos de idade, eu e outros tivemos de ir à delegacia de polícia para sermos apresentados ao coronel Coelho, sem ter nada a ver com o fato.
Cadê Osmar, irmão de Geraldinha? Com ele jogava futebol, tampinha e juntos íamos à Escola Normal, no período ginasial. Lembro bem do cuidado da mãe dele com a roupa do filho. A camisa engomada, tanto quanto a minha, eram coisas de mãe. Nunca mais tive notícia dele. Tomou aquele comprimido para dor de cabeça e... Sumiu.
João Carlos Gabrich, irmão de Felipe, é outro sumido. Tive notícia dele, recentemente, por intermédio de Felipe. João Carlos mora na Serra do Cipó. Feliz dele. Serra do Cipó é um dos lugares mais aconchegantes do planeta. Como João Carlos fazia um pouco de tudo: bolinha de gude, futebol, papagaio. Era com ele e o irmão dele, Ricardo, que, creio, vive em Montes Claros hoje, mas há muito tempo não o vejo também.
E os irmãos Roberto e Ronaldo Lima? Roberto, sei, ele nos deixou, recentemente. Vivia em Januária. Que descanse em paz. O irmão dele, Ronaldo, o Roxxim, tenho notícias, ele é meu amigo no Facebook. Mora em Janaúba, aposentado do Banco do Brasil. Vivemos bons momentos, naquela época, não foi mesmo, Roxxim?
Jésio, o que aconteceu com Jésio? Ele morava na Rua Corrêa Machado esquina de Rua João Pinheiro. A casa nem existe mais. Tinha alpendre e era pintada de verde escuro. Dali do alpendre divertíamos com uma ousada brincadeira chamada “pau de bosta”. Não vou nem entrar em detalhes sobre essa brincadeira condenável.
E Danilo? Danilo morava numa casa atrás da Rua Corrêa Machado. Com ele passava horas jogando bolinha de gude ou, senão, empinando papagaio. Na manhã em que meu pai morreu, 15 de janeiro de 1961, eu jogava bolinha de gude com Danilo quando minha irmã, Lúcia, chegou me chamando. Era para eu ir correndo. Fui.
Quem sabe do Zezinho? Ele morava quase na esquina da Rua Camilo Prates com Corrêa Machado. Foi colega de escola e de Tiro de Guerra, se não me engano. Morava em frente ao Juquinha, um camarada com alguma deficiência física, mas de cabeça boa. Juquinha era o técnico dos times de futebol armados no campo do União.
Como dizia no início deste texto, a gente passa pela vida de tanta gente e tanta gente passa por nossa vida. É inacreditável. Duma hora para outra a própria vida cuida de distanciar as pessoas umas das outras. Ficaram só as recordações dos bons momentos vividos numa época em que éramos aprendizes de felicidade.   
E Cícero Bastos – Cícero Estru, por onde anda? Ele morava na Rua Corrêa Machado. Quem sabe dele?

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