BRAÚNA
"...Rufam tambores e a banda toca na
Praça da Matriz..."
Por Márcia Vieira Yellow
Escrever ou não escrever?
Num tempo em que todo mundo é escritor (e não falo isso de maneira pejorativa.
É só uma constatação de que há mais livros à venda do que leitores, mas isso é
assunto para outra hora), a dúvida paira no ar, a incerteza toma o coração e a
gente fica miudinho, sabendo que nada do que for dito, poderá se igualar ao
assunto, no caso, a pessoa que é o assunto: BRAÚNA.
Ildeu de Jesus Lopes, mas
poucas vezes nos lembrávamos disso. Formal ou informalmente, era BRAÚNA. Nome
de árvore resistente e alma de girassol. Passou 62 anos por aqui, distribuiu
entre amigos e parentes o seu tempo, contudo, nos deixou a impressão de que
este tempo que permaneceu entre nós foi pouco. Embora de muita qualidade, nós,
seres humanos, somos egoístas e sempre queremos mais disponibilidade das
pessoas que gostamos.
Nossa ligação foi estreita
por diversos fatores. Amigos comuns, preferências políticas, mas o grande elo,
o responsável pela afinidade que tivemos de imediato, não tenho dúvida, foi o
AGRESTE. Grupo Agreste, do qual Braúna foi membro e fundador, ao lado de outros
de igual estirpe.
Não tive a grata
satisfação de assistir a algum show do grupo, e este era um vazio que eu
carregava. Quando quis reuni-los em um programa de rádio (Rádio Terra), não
consegui conciliar as agendas (deles, diga-se de passagem, porque a minha pra este
grupo, sempre estaria disponível, a qualquer tempo e hora) e compareceram apenas
dois: BRAÚNA e MANOELITO. Mas foi
maravilhoso. Os dois falaram pelos que não puderam estar presentes em corpo,
contaram as histórias, e claro, ouvimos juntos as músicas. Ao fim do programa
Braúna prometeu juntá-los um dia, para atender ao meu desejo insistente. Eu só
não sabia que este dia seria 30 de maio de 2015, e de maneira inimaginável.
Confesso que o repreendo
pela atitude. Desta vez o egoísta foi ele, que não consultou aos amigos, fãs e
família, a respeito de datas para o espetáculo. Marcou na agenda, não contou a
ninguém, mas na hora marcada estavam todos lá para aplaudi-lo, cantar não com
ele, mas para ele. O palco desta apresentação foi o Centro Cultural. Não
poderia ser outro. Braúna foi inquilino por duas vezes como titular da Secretaria de Cultura e eternamente como apaixonado que era pela cultura e por
tudo aquilo que ela pode significar.
Só que ele não se
levantou. Deitado, de olhos cerrados, foi cercado pelo Grupo Agreste: Pedro
Boi, Gútia, Manoelito, Sérgio Carinha e Chorró. Só não veio Tom Andrade, que lá
em Alagoas perdeu o trem para Montes Claros. Mas lá estava Charles Boavista,
maquinista deste trem, com mais alguns
agregados, também apaixonados pela música do Agreste e por Braúna, cantor,
compositor, poeta, homenageado da noite.
Foram quase dez músicas,
um pocket show, como aqueles promovidos pela colunista Drikka Queiroz. Poucas e
boas músicas. Os filhos do Braúna, emocionados, sabiam de cor todas as músicas.
E não era pra menos. Concebidos com poesia, as letras do Agreste estiveram
desde sempre em suas mentes e corações. E o Centro Cultural vinha abaixo a cada
música entoada. O público cantou junto. Lágrimas, muitas lágrimas, pois já era tarde mas
ninguém queria sair dali. Todos queriam ficar mais um tiquinho perto do Braúna.
Para mim, depois de “não
chega a ser um pontinho preto no mapa, mas quando a gente se afasta coração
pede pra voltar”, Braúna não precisava fazer mais nada no mundo. Embora avesso
a títulos e glórias, só a criação desta estrofe já seria elemento suficiente
para garanti-lo no pódio.
Ele participou do show com
os colegas do Agreste, dormiu mais uma noite na sua casa favorita e hoje pela
manhã, rumou a outra morada, um pouco distante, mas nada que um táxi não
resolva. Um dia todos nós embarcaremos para lá. Só não sabemos quando, porque assim
como fez Braúna, poderemos marcar o último espetáculo a qualquer instante. Atentos
ou não, a vaga na agenda abre-se de repente, sem aviso. É embarcar ou embarcar,
sem tempo para escolhas. Façamos aqui então, as nossas escolhas. Braúna até na
última apresentação nos deu exemplo.
Como homem público, natural que todos queiram
se apropriar dele. Ele era de todos mesmo, mas incapaz de cometer uma
indelicadeza, mesmo sendo muito autêntico. Então o seu derradeiro show, nosso
último aplauso, tem que ser pacífico, como ele programou. E foi. Todos que passaram pela sua última apresentação, o amam, de uma ou de outra maneira.
Falemos todos dele como
amigos, a exemplo do que fizeram os seus colegas de banda (sempre muito unidos)
e outros que se dispuseram a dar depoimentos(foram tão bonitos e sinceros os depoimentos!), cada um a seu jeito, mas sem
querer falar por ele e tomar por verdade sentimentos que ele não nutria. À cidade de Montes Claros, Braúna deixa o seu maior legado: a capacidade de amar
e respeitar as pessoas.
Foi lindo o show! Você cumpriu
a promessa, Ildeu. Reuniu o grupo e nós assistimos. Nunca na vida assisti a um show mais bonito. Mas eu ainda o repreeendo: não precisava ser assim, nem agora!
Zumbi é o hino a não subserviência. Magnífico poema. Só este já bastava para imortalizar Ildeu Braúna, mas ele fez muito mais.
ResponderExcluirA história de vida de um povo é a sua cultura, suas raízes e seus heróis... Que Montes Claros nunca deixe de valorizar nossa arte e riqueza, feitas com tanto amor, carinho e dedicação...... Vai com Deus, irmão.... Essas raízes são profundas e os frutos serão eternos!!!
ResponderExcluirEmocionante,verdadeira e sincera homenagem!!! Braúna,ave rara!
ResponderExcluirMara, Lílian e Sued, de fato, o nosso Braúna era pessoa especial.Será sempre lembrado, com muito carinho e claro, muita música!
ResponderExcluirBjo pra vcs!
Márcia Yellow