Especialista lança livro sobre consumo pessoal de
drogas
Obra, embasada em conhecimentos jurídicos,
desmistifica pré-conceitos
Será
lançado na noite desta segunda-feira (14), dentro da programação da
Semana Cultural Igor Xavier, o livro "Direitos do usuário - Consumo
pessoal de drogas no Brasil", escrito pelo advogado e mestre em direito
Mércio Mota Antunes. O tema, polêmico, cada vez mais suscita novas
interpretações e debates, especialmente com relação aos direitos e
liberdade civis, e sua relação ou não com o crescimento da
criminalidade, violência ao usuário, etc.
De forma simples e didática, Mércio fornece
conhecimento jurídico sobre o tema, destacando abusos e ilegalidades
que comumente são cometidas pelos agentes do Estado, na
operacionalização da política de combate aos cidadãos que fazem consumo
de drogas. "Os
serviços públicos brasileiros, de um modo geral, são caros e
ineficientes. A ideia deste livro é minimizar isso em relação ao
'consumo pessoal de drogas'. Veja que não estamos falando em traficantes
de drogas, em traficantes de armas ou de políticos que se beneficiam em
caixa dois do dinheiro do tráfico. Estamos falando em 'usuários de
drogas'. Estamos falando de pessoas que estão no exercício de sua
'privacidade', de sua 'liberdade' em dispor do próprio corpo como bem
lhe convierem", destaca Mércio.
Segundo
Mércio, "a criminalização do uso pessoal de drogas é uma forma do
Estado se apropriar do corpo das pessoas. E essa apropriação é feita da
pior forma possível, pois além do domínio dos corpos individuais há uma
operação de segregação social em nome da política de combate às drogas. E
para piorar ainda mais a situação, o Estado operacionaliza essa
interferência fora dos parâmetros legais estipulados por ele próprio,
trabalham na grande maioria das vezes de forma arbitrária, abusiva e
ilegal".
Estado Democrático de Direito
Com
atuação jurídica voltada para a defesa dos direitos e liberdade civis, e
para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito, Mércio
acompanha de perto as transformações e negligências constitucionais. "A
trajetória humana é marcada pela luta por direitos como liberdade,
igualdade, propriedade, privacidade, entre outros. E esses 'direitos'
estão impressos em textos normativos que por vezes não assumem a devida
importância perante os olhos da sociedade e das instituições públicas".
Para
expor e explorar ainda mais o tema, Mércio Mota criou páginas na
internet, onde coloca observações críticas ao assunto e destrincha ao
máximo as dúvidas e (pré) conceitos sobre o uso pessoal de drogas. "Eu
não quero que o meu filho use drogas, e acho que pai nenhum quer. Mas se
meu filho vier a usar drogas, eu não serei ignorante o suficiente em
achar que colocando a polícia e a justiça atrás dele o problema se
resolverá. O consumo pessoal de drogas só aumenta. O uso ficou
indiscriminado e banalizado. Se meu filho usasse drogas eu iria querer
ter um instrumento jurídico em mãos que afastasse a polícia dele para
que eu pudesse ter um controle da situação. Seja um controle exercido
por mim próprio, seja um controle exercido por um especialista no
assunto", afirma.
Avaliando a construção de sua própria obra, Mércio destaca que
"quem lê o livro terá mais chances de evitar os abusos e ilegalidades
cometidas pelo próprio Estado", permitindo maiores chances de lidar com o
problema do consumo pessoal de drogas da pessoa que está perto dela
(ainda que esta pessoa seja ela própria) a partir de uma atmosfera menos
pesada e arbitrária. "Uma pessoa que usa drogas sofre estigmas, mas uma
pessoa que usa drogas e que ainda por cima passou pela justiça criminal
é mais estigmatizada ainda. É preciso afastar a pessoa desse sistema,
pois ele já não tem mais nenhuma função em relação a esse assunto. Esse
sistema criminal de combate às drogas diminui as possibilidades do
usuário em resolver seus problemas com as drogas, pois em vez de um
problema, ele terá dois: com as drogas e com o sistema criminal, sendo
que este não contribuirá em nada para resolver aquele", finaliza o
advogado.
RICARDO GUIMARÃES
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