Por Wanderlino Arruda
RAQUEL MUNIZ (Foto: Márcia Vieira) |
Quem viveu e trabalhou em Montes Claros algumas décadas atrás teve oportunidade de viver tempos de grande interesse com a chegada de pessoas que queriam conhecer a cidade e - naturalmente - ver vitrines e entrar nas lojas para alguma compra. As mercadorias eram bem diferentes das de hoje, quando eram vendidos chapéus, louças, tecidos, perfumes e até linhas e fitas. A razão dessas andanças feitas a pé era a passagem dos forasteiros que vinham do interior de São Paulo, maioria endinheirada e que queria levar presentes para familiares. O comércio era o maior da região e, como diziam, tinha de um tudo para encher as vistas e provocar alegria. Como trabalhei, por alguns anos, na Imperial e na Casa Elza, sempre soube chegar logo depois das sete, para receber a freguesia que disputava posições no balcão. Montes Claros foi sempre uma terra de curiosidades, de muita coisa para se ver, mesmo não sendo uma cidade turística. Era importante visitar o mercadão, a catedral, a igrejinha do Rosário, o colégio das irmãs, e para quem gostava de andar mais, até o Parque de Exposições, inaugurado em 1957, ano do Centenário. A partir de 1951, com todo o centro já calçado, o caminhar sem poeira era uma glória. O movimento de carros só veio acontecer depois de 1960, quando apareceram os primeiros fuscas, os gordines e daufines. Tudo era festa, um prazer imenso de andar e perambular, até quando sem destino. Os dois primeiros edifícios foram a Ciosa e a Caixa Econômica, ambos no Centro. A Ciosa, construída pelo médico Mário Ribeiro, era uma enormidade na ocupação do solo e na altura, vários andares de lojas, escritórios e apartamentos, além da galeria ligando a praça à Rua Lafetá. Na galeria, o elevador, o primeiro de Montes Claros, sucesso para todas as idades. O prédio da Caixa Econômica, foi de construção mais elaborada, arquitetos de fora, muito mais alto, acabamento mais caprichado. Comercial só o térreo, destinado à agência gerenciada por Chico Pires, tempo ainda de Maria Salomé, Dalva Medeiros e Tone Economiário. Do primeiro andar para cima só residências de classe média alta, destinadas a moradores reconhecidos pelos nomes de família ou pelas profissões de destaque. Os elevadores bem mais modernos, tinham portas automáticas. Tudo que até aqui foi dito é para chegar à história de uma menina nascida em família pobre, criada sem pai, e sustentada com dificuldade por dona Elza, misto de mulher e santa, exemplo de dedicação e carinho. Na casa, o dinheirinho modesto e controlado era só para vestir, comer e pagar o estudo, nada mais. Moravam na rua Melo Viana, pé dos Morrinhos. A jovenzinha, desde criança, era um primor de inteligência e desenvoltura, bonita, elegante e mais do que comunicativa. Na campanha eleitoral de Pedro Santos subiu ao palanque com bastante desenvoltura, pose de candidata. E como tinha boa voz, sua função foi cantar o jingle da campanha. Nome da menina: Tânia Raquel de Queiroz, hoje a querida médica, professora e deputada federal Raquel Muniz, única representante nossa no Congresso Nacional. Como amava sorvetes e cinema, e não tinha recursos, o jeito era esforçar-se para conseguir algum para a sorveteria e também para as matinês. Assim, todas as manhãs, ia para a Estação, aguardando o pessoal que chegava de trem. Como a maioria não sabia andar pelo centro, Raquel oferecia-se como cicerone. Além de levá-los aos consultórios e às lojas, vendia-lhes a oportunidade de andar de elevador, uma grande novidade. Levava-os aos prédios da Ciosa e da Caixa, cobrando pequena taxa ou trocando o serviço por uma ida à sorveteria Cristal, com direito de escolha do sabor. A atividade de guia turística da mocinha Raquel foi um excelente ensinar e aprender, preparo certo e seguro para uma futura liderança, tudo com merecimento do maior sucesso. E com a graça de Deus!
Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros
Desconhecia essa interessante habilidade de Raquel, já possuidora de tantas delas.
ResponderExcluir