31/03/2017
A
fertilidade do Agreste
O Grupo
Agreste surgiu inspirado nas músicas de já caducadas décadas, mas em especial
de uma mais recente, a de 1970, quando o Grupo Raízes e os grandes expoentes da
música nordestina – como Banda de Pau & Corda e Quinteto Violado lhe davam
o norte
Por Eduardo Brasil
O Norte
A história do Grupo Agreste principiou em 1978, nos gramados do Cassimiro de Abreu. Não exatamente no transcurso de uma partida de futebol, mas de mais uma edição do inesquecível Fucap – Festival Universitário da Canção Popular. Foi ali que surgiu a ideia de se criar um grupo musical que acabaria por reunir jovens universitários que assinariam seus nomes na história das nossas melhores quadras de arte e cultura: Manoelito Xavier, Ildeu Braúna, Pedro Boi, (Alexandre) Gútia e seu irmão, Carlão Toledo – entre outros que serão lembrados adiante, como a cantora Fatel, que ainda na incipiência da cria musical dividiria com ela palcos e luzes.
Manoelito diz que o Grupo Agreste surgiu inspirado nas músicas de já caducadas décadas, mas em especial de uma mais contemporânea, a de 1970 – do Grupo Raízes e dos expoentes do canto nordestino, como Banda de Pau & Corda e Quinteto Violado. Composições, aliás, que faziam o repertório de seus primeiros ensaios e apresentações. Mas não demorou muito para que o grupo buscasse a sua própria identidade, passando a compor – e o fazendo com a maestria daqueles em que se inspirou.
O grupo não tardaria a dar bons frutos, começando pela gravação, em 1980, do seu primeiro disco que romperia nossas fronteiras para ganhar destaque nacional no cenário da boa música brasileira. Com produção, direção de estúdio e mixagem de Téo Azevedo, o LP, além de Gútia, Pedro, Manoelito, Braúna, Sérgio Damasceno, Tom Andrade contava ainda com a participação de Zé Chorró (baixo) Toninho (percussão), Ciríaco da Sanfona e Afonsinho (bateria). Gravado em São Paulo no Estúdio Bandeirante, O LP alcançou rápida projeção nacional ao ter duas de suas faixas, “Zumbi” e “Jaíba”, selecionadas para a trilha sonora da novela “Rosa Baiana”, que era exibida pela Band.
O segundo disco,
também com produção e direção de Téo Azevedo seria gravado em 1982 no Estúdio
Mosh (SP) com um dos maiores sucessos do grupo, “A lenda do arco-íris”. Desta
vez com o apoio de Vanderdaik (voz e violão), César Abianto (acordeon) e Zé
Toco (bateria). O Agreste, então, alçou novos voos e mais uma vez ganhou
altitude nacional, realizando shows pelo país e sendo convidado para seguidos
programas de televisão, conduzidos por grandes nomes da música brasileira como
já havia ocorrido por conta da repercussão do primeiro disco. Naquela
oportunidade, os músicos norte-mineiros brilharam no programa “Som Brasil”
(Rede Globo), com Rolando Boldrin. Várias de suas composições foram gravadas
por gigantes como Sérgio Reis, Renato Teixeira, Pena Branca & Xavantinho,
Vitor Batista, Décio Marques, Rubinho do Vale, Efrain Rios só para citar alguns.
Mas, como que
reforçando a máxima que tem breve existência o que é bom, o Grupo Agreste não
demorou na sua essência - foi desfeito um ano depois, em 1983. Mas o vislumbre
de voltar aos palcos e estúdios nunca se distanciou de seus componentes. O
ambicioso projeto de retorno, que vinha sendo buscado, alimentado dia a dia,
ano a ano, entretanto, foi tragicamente interrompido pela morte de Ildeu
Braúna, excelente letrista e que em parceria com os companheiros assinou a
maioria das músicas do Agreste. Manoelito lembra que a passagem de Braúna
abalou a todos de forma brutal, muito doída. Não poderia ser diferente. O
letrista impecável era um dos pilares do grupo. A ideia do retorno, então, foi
afastada, mas por ora. Ainda neste ano de 2017 o grupo pretende se reunir mais
uma vez, mesmo na impossibilidade de fazê-lo com todos os seus valores.
Manoelito entende que o espaço que o Grupo Agreste ocupou no cenário musical ainda pode ser retomado. Para ele, apesar de os gêneros musicais que hoje dominam o país estarem anos-luz da autenticidade e qualidade da música daqueles idos, há um povo seleto a aguardar por uma reação que traga de volta a “verdadeira canção popular”. Ele se confessa “decepcionado” com os rumos que a música produzida no Brasil tomou nos últimos anos, afastando seus verdadeiros mensageiros e tornando-se um produto de “conteúdo” discutível, com “artistas” e “músicas” descartáveis à mercê de oportunistas. Cita, por exemplo, o “gênero sertanejo-universitário” e questiona até onde se enquadram os universitários nessa historíola. Logo eles, que em quadras amargas como as de chumbo tinham na música, que era das boas, um dos estandartes de suas convicções políticas, econômicas e sociais. Sertanejo-universitário? Manoelito gostaria de saber do que realmente se trata. Nós também.
Manoelito entende que o espaço que o Grupo Agreste ocupou no cenário musical ainda pode ser retomado. Para ele, apesar de os gêneros musicais que hoje dominam o país estarem anos-luz da autenticidade e qualidade da música daqueles idos, há um povo seleto a aguardar por uma reação que traga de volta a “verdadeira canção popular”. Ele se confessa “decepcionado” com os rumos que a música produzida no Brasil tomou nos últimos anos, afastando seus verdadeiros mensageiros e tornando-se um produto de “conteúdo” discutível, com “artistas” e “músicas” descartáveis à mercê de oportunistas. Cita, por exemplo, o “gênero sertanejo-universitário” e questiona até onde se enquadram os universitários nessa historíola. Logo eles, que em quadras amargas como as de chumbo tinham na música, que era das boas, um dos estandartes de suas convicções políticas, econômicas e sociais. Sertanejo-universitário? Manoelito gostaria de saber do que realmente se trata. Nós também.
Hoje ele diz
ficar retraído e desagradado ao ouvir o que se canta e se toca pelo país afora:
músicas que, na sua estrondosa maioria parecem o retrato fiel de uma época em
que os mais comezinhos de nossos valores culturais são deixados de lado. Pior:
em nome de “bundinhas”, de “peitinhos” e de outros atributos humanos explorados
com ilimitada perversão e mau gosto. Adianta não ter preconceito com nenhum
gênero musical, não, mas lamenta que as produtoras, as mídias, enfim, invistam
cada vez mais em “artistas” chamados “da hora”, cujas aparições eventuais,
relâmpagos, são puro comércio de lucro fácil. Artistas lançados já com validade
vencida. A verdadeira e boa música brasileira precisa retomar seus espaços sob
pena de esses da hora tornar ainda mais vulgar um de seus mais valiosos
patrimônios.
Manoelito é de
opinião que não dá mais para aguentar este longevo festival de besteiras que
assola o país (aqui evocando o espírito do jornalista Sérgio Porto na pele de
Stanislaw Ponte Preta até mesmo para nos proteger). Para ele, assim como
é possível à boa música retomar o seu canto especial em nossas vidas, o retorno
do Agreste também o é, como foi para a Fênix.
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