TEXTO CONVIDADO: ALBERTO SENA
GRÃO MOGOL
CONCERTINA E A INSEGURANÇA PÚBLICA
Alberto Sena
Quando pela primeira vez vim a Grão Mogol há cinco anos encontrei só uma casa com cerca elétrica. E com a manga esquerda da minha camisa, pensei sobre o quão desnecessário era a cerca, a não ser para estimular o surgimento de outras. Mas foi um indicador importante para fazer a leitura do quanto a cidade era (é) tranquila e sossegada, em comparação com o ritmo de vida nas grandes cidades.
Outro indicativo foi encontrar casas com portas e janelas abertas. Não via isso desde os anos da infância e da puberdade vividos em Montes Claros, torrão onde nasci. Em um dos retornos recentes a Montes Claros boquiaberta deparei-me com várias casas dotadas de algo mais além de uma mera cerca elétrica; encontrei concertinas em diversos lugares.
Para quem já viu cerca desse tipo em muros de casas residenciais e não sabia dizer o nome, por definição, “arame de concertina é uma barreira de segurança laminada, de forma espiralada possui lâminas pontiagudas, cortantes e penetrantes”. Ai de quem se atrever a ultrapassá-la. Além de cortante, ela é carregada de certa quantidade de volts de energia elétrica.
Utilizada em ações militares para impedir a ultrapassagem de certo perímetro, concertina é considerada a evolução do arame farpado. É feita de aço galvanizado ou inoxidável. Encontrar ferramenta convencional para cortar uma cerca feita de concertina não é fácil.
Quando me surpreendi com as casas de Montes Claros dotadas de concertina a minha impressão era de estar em um campo de batalha. Deu até medo andar na rua. A fobia contamina. E, então, me lembrei do vaticínio de Darcy Ribeiro sobre o dia em que estaremos presos em condomínios vigiados por homens armados e os chamados bandidos em liberdade.
Esse dia chegou. Chegou para as grandes cidades, onde as concertinas enfeiam a paisagem e dão margem a imaginações várias sobre o ponto de degradação alcançado pela sociedade brasileira.
Se tivesse havido lá atrás atitudes visando investimentos socioeconômicos, distribuição equitativa de renda e massiva atenção à educação entre outras iniciativas será que os governantes e a sociedade não teriam evitado tudo isto?
Em meus 50 anos de jornalismo tive tempo suficiente para constatar, denunciar e alertar o quanto toda essa parafernália de segurança é muitas vezes mais cara do que o investimento em gente humana, tendo em vista evitar os males hoje sofridos por toda sociedade na atualidade. O monstro foi construído por nós mesmos. E, agora, estamos sofrendo as consequências da imprevidência humana.
Quanto a Grão Mogol, cinco anos depois de ter conhecido a cidade, observo a cada dia o aumento do número de cercas elétricas. E, ultimamente, concertinas. Da minha janela, sem sair do lugar, olhando em direção ao Poço das Moças observo uma casa recém-construída já com uma cerca de concertina. A mesma fobia estampada no rosto de quem vive em cidade grande aos poucos contamina também grãomogolenses.
Em outras palavras, embora cidade pequena, com menos de seis mil habitantes, Grão Mogol já vem sendo atingida pelos males das metrópoles. Vejo, contristado, os sinais dessa realidade agressiva. Ela leva as pessoas a desconfiarem de todo estranho encontrado pela frente e culmina na deterioração das relações humanas.
Se essa fobia se instalar de fato, levando os grãomogolenses a superestimar o problema da violência urbana, Grão Mogol já terá então perdido a paz e o sossego, hoje em dia quesitos fundamentais contra a neurose da guerrilha urbana encarnada e travada diuturnamente em todos os quadrantes do Brasil.
Felizmente, a cidade conta com a eficiência do Pelotão da Polícia Militar, sob o comando do tenente Ricardo Batista de Souza. Pragmático, ele projeta para Grão Mogol uma companhia da Polícia Militar. O que é uma garantia maior, além da proteção natural da geografia e da topografia da cidade nascida nas dobras da Serra do Espinhaço, Serra Geral chamada.
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