“Qual o peso desse preço, desse ferro, desse berro de dor?” (André Águia)/ Mara Narciso
Numa época que se prima pela divisão entre ódio e superficialidade, ter um encontro com a boa música é rara oportunidade de impregnar o corpo e mudar o estado da alma. O show “30 anos luz” em comemoração aos 30 anos de carreira de André Águia, foi um momento quente, no raro frio de Montes Claros.
O cantor paraense de Belém, radicado em Porteirinha, com passagem por Belo Horizonte e há 11 anos em Montes Claros, foi além da universalização que a música proporciona, dando uma aula de ecletismo e harmonia.
Musical, curiosamente, aos dois anos de idade passou pela Rua do Matoso, de Tim Maia e Erasmo e Roberto Carlos, na Tijuca do Rio de Janeiro. Inquieto, iniciou sua carreira aos 12 anos, participando de bandas com um irmão e amigos, tempos depois tentou uma carreira solo. Também esteve em bandas de Belo Horizonte, tocando em grandes shows, e, então, em 2006, casado com uma montes-clarense, veio morar em Montes Claros, voltando a cantar sozinho.
A sua música mais tocada nacionalmente foi “Amor só”. Gravou em 2003 uma homenagem ao Cruzeiro em “Azul é o futebol”, e em 2012 o CD/DVD “A música do novo Brasil”. Gravado no Coliseum de Santa Bárbara, ambiente que respira cultura, e, levando a grande marca de qualidade que o acompanha, contou com a participação dos seus filhos Lucas e Luiza Clara, então com 11 e sete anos, respectivamente, e dos cantores Débora Rosa, Leo Lopes, Bete Antunes e Jukita Queiroz.
Afável, receptivo, e em certa medida, humilde, André Águia, batizado André Luiz Aguiar, teve seu nome alterado pelo amigo Leo Lopes, o que lhe deu um salto diferencial, que, acoplado a sua privilegiada veia poética e musical, passou a valer como marca.
Suas canções falam do cotidiano, do romântico, porém, inconformadas, buscando não apenas protestar, mas modificar os fatos. Sua música se destaca na programação da Rádio Unimontes/Universitária, e há três anos deu sua cara ao 28º Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, acontecimento cultural que envolve palestras, exposições, leitura e performances, com a música Tripsiu, um rock bem arquitetado, que agitou e reverberou por um bom tempo.
Em 2016 foi a Bento Rodrigues gravar um videoclip dentro da lama que arrancou do mapa dois povoados de Mariana. Os versos iniciais de “Mariana ao mar” falam assim: “Qual o limite da sua ganância / Qual o peso desse preço, desse ferro, desse berro de dor/ Dessa falta de amor / Qual o limite da ignorância / Qual o peso desse preço / Desse dano, dessa destruição, desilusão?”//. É preciso dar atenção ao que diz André Águia, e ficar de ouvidos atentos à sua música panfletária, de refrão melodioso e inesquecível.
Desta vez, num ambiente intimista, quente de confraternização, amigos se reuniram no palco após muitos anos, proporcionando uma festa para a platéia. A apresentação que durou duas horas aconteceu na Alexandrina Casa de Música, no Bairro Jardim São Luiz. Lá, foi possível mergulhar no aconchego de uma decoração rústica e de bom gosto, comer comidinhas com molhos sofisticados ou, simplesmente abraçar o belo.
Durante a apresentação, sua filha Luiza Clara, hoje com 13 anos, emocionou a platéia com sua voz suave de menina-moça talentosa, e ainda um pouco acanhada.
O eclético cantor e compositor, que trabalha como professor e diretor do Programa República na FIPMoc - Faculdades Pitágoras de Montes Claros, vai do romântico ao rock, passando pelo samba, e, cantando bem, recebeu amigos no palco e entoou canções junto aos fãs, que brindaram sua carreira. Esse momento tocante, precisa ser ampliado para um show maior, no qual mais gente poderá cantar a sua boa música, ainda que seja preciso ter canais para todos os estilos, como André Águia, democraticamente deseja.
16 de julho de 2017
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