domingo, 30 de julho de 2017

TEXTO CONVIDADO: MARA NARCISO

TEXTO CONVIDADO: MARA NARCISO

Campo de batalha nas redes sociais/ Mara Narciso

No começo da década de 1990, primos e irmã frequentavam a internet. Não sabia que logo seria um instrumento universal no qual estaríamos todos inseridos. Quando palavras como surfar, site, link, e-mail, copiar e colar, download, nada significavam, eu, mergulhada na burrice digital, dizia não ter interesse naquilo.

Em 1999 decidi como tarefa de janeiro de 2000, comprar um computador e fazer um curso de informática. Tive 40 horas-aula em casa e passei a usar a internet para estudar Endocrinologia em sites americanos, fazer contato com outras pessoas através de e-mails, e usar o chat Mirc/ ICQ. Em 2001 comecei a frequentar salas de chat no Portal Terra e fiz amizades virtuais que duram até hoje.

Em 2005, frequentadora desde 2004, tive a oportunidade de ser vítima de linchamento virtual no Orkut, dentro da comunidade literária “Espancadores de teclados”. Muito opinativa, fiz um comentário, não depreciativo, que afirmava ser a autora do texto, possivelmente, portadora de TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, um assunto que me dominava na época. Todos se viraram contra mim, e com tal agressividade que saí arrasada, sumindo do site por três dias. Ficou a marca desde então, e sei o que isso significa. As ofensas soam como bofetadas e são inesquecíveis.

No curso de Jornalismo, terminado em 2010, tive diversas matérias voltadas para o mundo digital. Depois surgiu o Facebook, no qual entrei em janeiro de 2011. Desde então, venho assistindo a escalada da violência verbal até superar o nível máximo. Os usuários, que poderiam ser positivos para educar e construir, fazem elogios automáticos e mentirosos, muitas vezes invejosos, ou cutucam o “amigo” com comentários irônicos. Isso no campo pessoal. Noutros campos são ainda mais agressivos. Circulam mensagens religiosas, assim como críticas debochadas a outras religiões ou aos ateus. Alívio: deixam anjinhos, florezinhas e bichinhos, com suas bobagens do tempo do Orkut nas mensagens inbox. Assim não poluem a Linha do Tempo.

Eu uso o Facebook durante seis horas por dia, e já alcancei diversas vezes o número máximo permitido de 5000 contatos. Então, depois de quase 18 anos de internet, posso assegurar aos recém-chegados, que, atualmente, a maior diversão é derrubar mitos, deixar a reputação de um político ou celebridade, ou pessoa menos votada, mas de algum destaque, em frangalhos.

O que importa não é opinar, é destruir. Os contendores parecem estar dentro das quatro linhas de um ringue, levando o inimigo para as cordas, dando-lhe milhões de sopapos, até vê-lo desfalecido. Podem se valer do anonimato de um fake, desferir os maiores despautérios, até o tiro de misericórdia. O motivo do xingamento é a pessoa ter opinião diferente da do ofensor. E trazendo a surrada comparação da árvore cheia de frutos, de fato, quem não é nada e não produziu nada, dificilmente será atacado, exceto em casos específicos.

O gosto de quem ataca é ler a resposta, para aumentar o poder de fogo. Quando a pessoa está ausente ou não faz parte daquela rede social, os covardes, confiantes, se fortalecem. É fácil desferir o golpe fatal. Os ídolos, numa época em que não mais se acredita no que se ouve, nem no que se vê (vídeos inclusos), em que as autorias são trocadas e falsas notícias dominam a festa da infâmia, tirar alguém de circulação é a meta dos brigões. Poucos se calam diante de uma provocação. É automático revidar, no entanto, a melhor arma dentro de uma rede social, que vale como uma bomba atômica às avessas é se calar, e à Justiça, cabe rastrear as ofensas e punir os agressores com a força da lei.

23 de julho de 2017

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