Por
Márcia Vieira
O sábado
de outubro "montescureceu". Georgino Junior, o segundo de três
Georginos, foi musicar, redigir, pintar, conversar e enfeitar o céu. Era jornalista, escritor, artista plástico, músico, um muito de tudo.
Hoje
Montes Claros não montesclareou. A cidade está de luto com a partida de
um dos seus filhos mais ilustres e talentosos, que deixa sua marca para ser
generosamente distribuída e absorvida pelas próximas gerações.
Aos
poucos, os talentos dos Montes vão partindo sem deixar substitutos. Não é que
não exista gente talentosa agora. Até que existe. Mas é uma geração, que ao
contrário da de Goya, Regi, Braúna, Georgino e outros tantos, precisa ser
espremida pra exprimir alguma coisa.
Eles não.
No caminho inverso, espremiam o tempo, o espaço e quebravam conceitos com suas
inquietações. Era gente que gostava de viver em Montes Claros e, apesar de,
viver além dos limites traçados pela própria cidade. E nós sabemos quantos
muros esta cidade hipocritamente impõe a quem ousa.
Goya com
sua voz inigualável e poderosa encantou moçoilas e teve todos os filhos do
mundo, perdendo apenas para o lendário Antônio Luciano. Regi editou
brilhantemente sem mutilar, sem mexer, sem ferir e sem alterar a verve
literária de cada ser que confiou textos às suas mãos. Braúna escreveu ao lado
de Pedro Boi, as letras do Agreste, banda que ainda se chamava grupo e até hoje
encanta centenas de pessoas, inclusive a mim, com suas letras simples e
emocionantes. E Georgino, com Tino, cravou na memória de cada
montes-clarense de nascimento ou por adoção, a música mais representativa que
se ouve em Montes Claros, até mesmo maior que o próprio hino da cidade, sem
desmerecer as autoras do hino, a inesquecível Yvonne Silveira e a talentosa
maestrina Clarice Sarmento.
Quem não
se arrepia ao ouvir "Montesclareou" não sabe o que é amar um lugar,
uma terra, uma pátria. Apenas para ilustrar rapidamente algumas das façanhas
dessa trupe cultural que já não está entre nós.
Georgino
era lenda, história, poesia, conhecimento. Parte da sua arte está exposta nas
paredes da loja amarela, que agora me escapa o nome, mas nunca me escapa a
cor, no shopping Ibituruna, da sua esposa Cléo.
A outra
parte está nos arquivos de jornais e revistas ou com os seus amigos, donos de
histórias diversas em que ele é protagonista ou co-autor.
O segundo
Georgino é filho do primeiro,o Coronel Georgino, que também marcou época e era
respeitado e temido, não obstante o seu famoso bom humor. O terceiro Georgino
virou Gino, ligado ao esporte, mas igualmente voltado a escrita e ao
inconformismo, como o pai.
Tenho
algumas fotos do Georgino. Olhando para elas agora, vejo como são rápidas as
passagens e como farão falta às novas gerações, as doses de Georginos, Regis,
Goyas, Braúnas e muitos mais. Para ficar numa frase que a minha colega
Drika Queiroz comumente utiliza em conversa com seus entrevistados "Em
qual fonte você bebeu?", eu hoje pergunto: "em qual fonte vocês,
jovens artistas, jornalistas e outros istas irão beber? A fonte está secando.
Não há substitutos. Os Montes estão escurecendo.
Absorvam Georgino, agora no céu, enquanto ainda há tempo. Ele deixou um monte de coisas para todos. Ouçam Georgino, cada vez que Tino cantar. Cada dia que montesclarear. Em cada tela que encontrar assinada por ele. Nos arquivos literários. Nas rodas de conversa. "Nos olhos cegos de poeira e dor. Tudo é previsto pelos livros santos, que só não falam que o sonho acabou"
Namastê é o nome da loja de Cléo. Lá tem pinturas de Georgino Júnior. Grande artista plástico, escritor, poeta, compositor multitalentoso, partiu no dia do aniversário do parceiro Tino Gomes. Que descanse em paz.
ResponderExcluirParabéns, Márcia! Você retratou muito bem o talento de nosso querido poeta e, também, a nossa dor, por não tê-lo mais entre nós. Estou certa de sua ele dá, hoje, boas gargalhadas siderais! Abraço.
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