sábado, 13 de outubro de 2018

MONTESCURECEU



Montescureceu

Por Márcia Vieira

O sábado de outubro "montescureceu". Georgino Junior, o segundo de três Georginos, foi musicar, redigir, pintar, conversar e enfeitar o céu. Era jornalista, escritor, artista plástico, músico, um muito de tudo.
Hoje Montes Claros não montesclareou.  A cidade está de luto com a partida de um dos seus filhos mais ilustres e talentosos, que deixa sua marca para ser generosamente distribuída e absorvida pelas próximas gerações. 
Aos poucos, os talentos dos Montes vão partindo sem deixar substitutos. Não é que não exista gente talentosa agora. Até que existe. Mas é uma geração, que ao contrário da de Goya, Regi, Braúna, Georgino e outros tantos, precisa ser espremida pra exprimir alguma coisa.
Eles não. No caminho inverso, espremiam o tempo, o espaço e quebravam conceitos com suas inquietações. Era gente que gostava de viver em Montes Claros e, apesar de, viver além dos limites traçados pela própria cidade. E nós sabemos quantos muros esta cidade hipocritamente impõe a quem ousa.
Goya com sua voz inigualável e poderosa encantou moçoilas e teve todos os filhos do mundo, perdendo apenas para o lendário Antônio Luciano. Regi editou brilhantemente sem mutilar, sem mexer, sem ferir e sem alterar a verve literária de cada ser que confiou textos às suas mãos. Braúna escreveu ao lado de Pedro Boi, as letras do Agreste, banda que ainda se chamava grupo e até hoje encanta centenas de pessoas, inclusive a mim, com suas letras simples e emocionantes. E Georgino, com Tino, cravou na memória de cada montes-clarense de nascimento ou por adoção, a música mais representativa que se ouve em Montes Claros, até mesmo maior que o próprio hino da cidade, sem desmerecer as autoras do hino, a inesquecível Yvonne Silveira e a talentosa maestrina Clarice Sarmento.
Quem não se arrepia ao ouvir "Montesclareou" não sabe o que é amar um lugar, uma terra, uma pátria. Apenas para ilustrar rapidamente algumas das façanhas dessa trupe cultural que já não está entre nós.
Georgino era lenda, história, poesia, conhecimento. Parte da sua arte está exposta nas paredes da loja amarela, que agora me escapa o nome, mas nunca me escapa a cor, no shopping Ibituruna, da sua esposa Cléo.
A outra parte está nos arquivos de jornais e revistas ou com os seus amigos, donos de histórias diversas em que ele é protagonista ou co-autor.
O segundo Georgino é filho do primeiro,o Coronel Georgino, que também marcou época e era respeitado e temido, não obstante o seu famoso bom humor. O terceiro Georgino virou Gino, ligado ao esporte, mas igualmente voltado a escrita e ao inconformismo, como o pai.
Tenho algumas fotos do Georgino. Olhando para elas agora, vejo como são rápidas as passagens e como farão falta às novas gerações, as doses de Georginos, Regis, Goyas, Braúnas e muitos mais. Para ficar numa frase que a minha colega Drika Queiroz comumente utiliza em conversa com seus entrevistados "Em qual fonte você bebeu?", eu hoje pergunto: "em qual fonte vocês, jovens artistas, jornalistas e outros istas irão beber? A fonte está secando. Não há substitutos. Os Montes estão escurecendo.
Absorvam Georgino, agora no céu, enquanto ainda há tempo. Ele deixou um monte de coisas para todos. Ouçam Georgino, cada vez que Tino cantar. Cada dia que montesclarear. Em cada tela que encontrar assinada por ele. Nos arquivos literários. Nas rodas de conversa. "Nos olhos cegos de poeira e dor. Tudo é previsto pelos livros santos, que só não falam que o sonho acabou"
  

2 comentários:

  1. Namastê é o nome da loja de Cléo. Lá tem pinturas de Georgino Júnior. Grande artista plástico, escritor, poeta, compositor multitalentoso, partiu no dia do aniversário do parceiro Tino Gomes. Que descanse em paz.

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  2. Parabéns, Márcia! Você retratou muito bem o talento de nosso querido poeta e, também, a nossa dor, por não tê-lo mais entre nós. Estou certa de sua ele dá, hoje, boas gargalhadas siderais! Abraço.

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