O mundo não tem só duas cores/ Mara Narciso
Pensar não dói, mas pode ameaçar governos. Isso, sob a ótica coletiva, mas, na individual poderá adoecer pessoas de pensamentos destrutivos. Quem comanda seu pensamento, comanda seu sentimento.
Pensar é uma troca de informações entre os neurônios, e é, caracteristicamente, ingovernável por outrem. O dono do pensamento deve trabalhar para domá-lo. Seu resultado poderá reduzir ou amplificar medos. Parte das pessoas tem receio de praticar esse belo passatempo, temendo descobrir coisas sobre si, preferindo mergulhar na, geralmente, superficialidade de fotos, textos, vídeos e piadas das redes sociais.
Convencer pessoas a ter comportamentos a partir de pensamentos impostos é ato complexo. Poderá se tornar automático com a repetição, até o nível da lavagem cerebral, como as religiões fazem, o que imbeciliza o indivíduo. Há quem repita mantras sem sentido, como se racionais fossem, e querem levar a todos, na sua manifestação doentia. Os dogmas são aceitos sem questionamento, por isso são dogmas. Junto à doutrinação religiosa vem a intolerância com outras formas de pensar. Crenças e opiniões deveriam ser de cada um, não tentando uniformizar pensamento/sentimento, haja vista o experimento desastroso em o “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley.
O mundo comporta as sete cores do arco-íris, que, em condições meteorológicas ideais, mostra sua beleza perfeita, simétrica, equilibrada, sem o marasmo da cor única, e ainda de quebra prova que a Terra é redonda. Os terraplanistas podem crer no que quiserem, desde que não imponham suas crenças de que a Terra é plana e não gira em torno do sol.
Assim como, entre o fim do dia e o começo da noite o céu se exibe com uma paleta de cores, também ao amanhecer o fato se repete. Não existe apenas a situação dual noite e dia. Temos o momento da alvorada e do crepúsculo.
Não vou mencionar a cor da roupa, para cada gênero. Quanto à cor da pele humana há infinitas possibilidades de tons, assim como, quando analisamos os comportamentos sob o enfoque amoroso. O comportamento sexual é muito complexo. O simplismo dual castra, cega, entope a boca, mas não segura o pensamento nem a ação. O que fere não é o amor, é o ódio. Uma pessoa não é de todo má, e nem de todo boa, também aqui haverá maldades e bondades em alguma época, e suas previsíveis gradações. O santo e o perverso em algum momento do prisma, poderão se encontrar.
Para tomar decisões, não são indispensáveis os ensinamentos da doutrinação, embora a religião e a ideologia política influenciem. A conversão e seu reverso muitas vezes são instintivos. A escola orienta, mas quem educa é a família, que passa valores e dá os exemplos. O discurso sugere e o comportamento do educador convence.
Filosofar e sociologisar independem das verbas para suas faculdades. Está aí um desestímulo ao livre pensamento, porém, ele irá persistir. A proibição e a colocação de viseiras atrapalham, mas não impedem pensar, nem ir pastar em outros jardins, ou até mesmo viajar aos confins do Sistema Solar e seus corpos esféricos. Podem esculachar e enquadrar, que os corpos celestes continuarão redondos como bolas de futebol, e os pensamentos se manterão fluidos, mutantes e indomáveis, tal qual cavalo chucro.
Nas finais de campeonato de futebol, em cada estado, ano após ano, as torcidas veem os mesmos dois adversários em campo, e os indivíduos dessas manjadas duplas se alternam como vencedor, ainda que existam outras agremiações, que, ocasionalmente, mostram sua cabeça, até acontecer um milagre.
A ideologia política segue essa mesma lógica. A mesa não tem apenas dois lados, o direito e o esquerdo, mas diversas outras posições. Na realidade há inúmeras situações intermediárias. Caso os países, através dos seus líderes, pudessem se sentar numa mesa, em situação de igualdade, as guerras tenderiam a se reduzir. A sociedade como um todo, numa situação ideal, deveria se sentar numa távola redonda, sem cabeceira, na qual todos tivessem a mesma importância. Sonhar é preciso, mas agir é mais do que necessário.
Querido Brasil, da floresta amazônica, dos índios, da bela bandeira e do maravilhoso Hino Nacional, há inúmeras formas de amar, e só uma de odiar. Fujamos das ideias reducionistas.
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