Texto Convidado: Mara Narciso
Em cima do palco
Mara Narciso
Caso o medo aparecer, antes ou durante a apresentação do nosso número de flamenco, me lembrarei da dignidade e coragem da minha prima Simone Narciso Lessa. Então, superarei minhas limitações e executarei com naturalidade o que aprendemos este ano. Temos aulas semanais de uma hora com Elisa Pires, praticante e divulgadora do flamenco há 20 anos, anteriormente em Belo Horizonte, e há quatro anos no Pátio Flamenco de Montes Claros. Coreógrafa que é, vai, semana a semana criando a coreografia de cada grupo, de acordo com as habilidades do conjunto. Também compõe a trilha musical com o cantor e guitarrero flamenco Fernando de Marília, gaúcho residente em São Paulo, que vem mensalmente, e fica uma semana para acompanhar as aulas. A música ao vivo é preponderante para nosso desempenho.
O Pátio Flamenco funciona no Bairro Jardim São Luiz, tem ótima sala com tablado e espelho, aceita alunos de todas as idades, e ao final de cada ano apresenta um espetáculo: o Festival Flamenco de Montes Claros, já em sua quarta versão. Todas as apresentações são no Auditório do Centro Cultural Hermes de Paula. Na primeira vez foram duas apresentações, na segunda foram quatro, e no ano passado uma quinta exibição aconteceu por exigência do público. Começa pontualmente como indicado, e além da Cia Flamenca Del Pátio Montes Claros, os alunos também se apresentam.
Este ano toda a sessão será em homenagem a Montes Claros, cidade natal de Elisa Pires, que tão bem a acolheu em sua volta, o que a motivou na concepção do espetáculo. Nas costuras entre os números, acontece a homenagem à nossa cidade. “Flamenco em los Montes” está uma atração bonita e emocionante. Tanto que, depois de escapulir três vezes (iniciei aulas de flamenco em janeiro de 2016), decidi-me por participar, em parte devido à garra, talento e habilidade da professora, mas também porque a música deste ano, um tarantos cantado de forma lamentosa por Fernando de Marília, e os passos dramáticos me seduziram. Passei a ter prazer em dançar.
O flamenco exige atenção, força, expressão corporal e técnica. Ajuda na memória, pois se trata de várias sequências de sapateado. Há também os bailados para ligar uma parte a outra. A harmonia do grupo está na sincronicidade dos gestos. Adquire-se desinibição, ritmo e musicalidade, tendo muitos benefícios para o dançarino. A mente do corpo que dança é mente sã. E se não é, ficará, pois dançar é terapêutico, especialmente quando a professora é psicóloga e trabalha a auto-estima do aluno.
Os figurinos já chegaram. Além de usarmos vestido flamenco, adornos como flores e brincos, teremos maquiagem e penteado típicos, para maior autenticidade na apresentação. Então, nos próximos 18 dias, vamos treinar para ter força no pé, nos complexos sapateados e doçura nas mãos, para executar a forma feminina de bailar. Nos dias 28, 29 e 30 de novembro às 20h30min e no dia 1º de dezembro às 19h30min, número após número, uma parte da Espanha desfilará em Montes Claros, mais uma vez. Preparem-se para acompanhar os 90 minutos do espetáculo. Enquanto isso, sobre o palco, sentindo-me uma espanhola, estarei concentrada, executando a coreografia concebida por Elisa Pires, uma grande artista da dança.
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