O amigo ISAÍAS CALDEIRA VELOSO, pessoa que está no topo ( aquele espaço que é reservado a poucos) da nossa estima, juiz de direito honrado, que faz jus ao posto que ocupa, envia um belo texto. De condolências, pela passagem da sua assessora Gilmara. Leiam:
Por Isaías Caldeira
Por sete anos Gilmara foi minha assessora jurídica. Tinha 36 anos e muitos planos, próprios e para as duas lindas filhas, tão lindas quanto ela, Gabi e Doti. Estávamos ambos em gozo de férias. No dia 07 deste mês retornaríamos ao trabalho. Conversamos no domingo à noite, por telefone. Estava gripada, mas animada, e me disse que tomaria uns chás e que estaria bem na terça. Muito trabalho nos esperava. Fez mingau de milho verde para levar para Bocaiúva, terra de sua família. Na segunda amanheceu bem, mas no mesmo dia à tarde sentiu-se mal. Uma irmã a levou à Santa Casa. Não conseguindo respirar, foi para o CTI. Pneumonia dupla. Na terça os rins pararam. Já inconsciente, respirando artificialmente, deixou de responder aos medicamentos. Na quarta feira, infecção generalizada. Quinta feira, por volta do meio dia, seu coração generoso deixou de bater. Foi para a eternidade e ficamos mais pobres, sem sua amizade, sem sua presença zeladora. Ficaram órfãos, além das filhas, os infelizes que passam pelas salas de audiências das varas criminais e depois amargam as agruras do presídio, aos quais ela devotava todas as suas forças e energias, anotando suas súplicas, reportando-as a mim e até a colegas juízes, para as medidas necessárias. Sentia-se responsável por todos os familiares de presos que batiam às portas do nosso gabinete e a todos ouvia, ciente das carências a que ficam submetidos sem o sustento pelos encarcerados, especialmente os infantes nascidos em berço estigmatizado pela miséria e pela condenação penal de ascendente. Nada tinha nas mãos que não fosse para repartir. Acreditava na reincarnação, Kardecista que era. E se assim for, deve estar nascendo, em algum lugar do mundo, um lótus feito gente, calmo e tranquilo, posto em meio às águas turbulentas do rio da vida, como sinal de que a obra continuará e que haverá sempre, em todos os tempos e lugares, pessoas com a missão de cuidar de outros, no exercício de cotidiana caridade, a mais pura manifestação do amor. Mas, sabe-se lá, talvez queira o Criador mantê-la consigo, assessorando-O nos pleitos dos homens aqui na terra, ouvindo suas preces e reportando-as ao Pai, no gabinete celeste, onde nossas ações encontram-se processadas, à espera da sentença que merecemos e que nos será dada pelo maior dos Juízes. Fique em paz, Gil, e obrigado por fortalecer a minha convicção que só o amor conduz à Justiça.
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