sábado, 25 de março de 2017

HOSPITAL PEDE SOCORRO e MUNICÍPIO SE NEGA A CUIDAR DA SAÚDE

25/03/2017
Hospital pede socorro e município se nega a cuidar da saúde
 
 
Márcia Vieira
Repórter
P/ O NORTE
 
Quadro desolador: população se espreme diariamente no Hospital da Santa Casa esperando por atendimento médico que a cada dia fica mais difícil 

Vereadores visitaram na terça-feira 21, o Hospital Santa Casa em Montes Claros a convite dos gestores daquele hospital. A unidade de saúde que se apresenta na mídia com “grau de excelência em atendimento” reconheceu esta semana que tem falhas no serviço e não é capaz de caminhar sozinha.

O vereador Valdecy Contador percorreu os corredores e presenciou a triste situação.
- Pelo menos 70 pessoas aguardavam em macas nos corredores, para fazer cirurgias. Havia uma senhora que estava lá há oito dias, aguardando para fazer um cateter. Não conseguiu marcar por não ter vaga nos quartos.  Uma situação impressionante - diz o vereador, que não foi autorizado a fazer fotos dentro do hospital.

SOFRIMENTO
Depois da denúncia, a reportagem esteve no hospital e presenciou parte do sofrimento da população. Cristina S. S., aguardava em uma fila a autorização para entrar e fazer a higiene do pai, paralítico e vítima de um AVC.

- Meu pai ficou numa maca, no chão, porque não tinha leito disponível. A comida chega e é colocada num balcão. No caso dele, que é paralítico, se não tiver um parente para alimentá-lo, ele fica sem comer.
Cristina ainda revelou que o horário reduzido de visita não é suficiente para fazer o pai se alimentar e receber os cuidados básicos de higiene.
Aline Polyana adquiriu uma úlcera de pressão depois de passar sete dias numa maca aguardando atendimento para um AVC. O problema foi causado pela falta de movimentação. A prima Nayara Ferreira, que acompanhava a paciente, afirmou que o problema poderia ter sido evitado.

- A situação poderia ter sido evitada, sim, mas ao contrário, ela foi provocada pela imprudência do próprio hospital.  Depois desses dias todos aguardando leito, ela foi transferida para o Aroldo Tourinho, que deu outro diagnóstico. Agora estamos aqui de volta, depois de 30 dias, para resolver o problema que este hospital causou – disse Nayara.

A paciente Aline terá que passar por cirurgia plástica, mas recebeu alta porque o profissional de saúde que a atendeu teve receio de que ela adquirisse uma infecção dentro da unidade, onde o risco de infecção é considerado alto.


ENTENDA O CASO
A situação caótica da Santa Casa já vem se arrastando há alguns anos. Em 2015, o então prefeito Ruy Muniz denunciou o que ocorria dentro do hospital e não autorizou o repasse de verba à Santa Casa - enquanto ela não cumprisse o que foi pactuado com o município. O hospital venderia serviços que não eram realizados. Cirurgias que eram praticadas a preço baixo pela tabela do SUS, não eram feitas porque não trazia retorno financeiro ao hospital/profissional. Já as cirurgias como angioplastias, colocação de stents e neurológicas se tornavam as preferidas, por serem financeiramente recompensadoras.  Em meio a polêmicas e interferências políticas, a Gestão Plena de Saúde foi retirada do município e passada para o Estado.
Agora, a Santa Casa reconhece que o Estado tem dificuldade para administrar e quer de volta a gestão para o município, mas o prefeito atual não quer assumir a responsabilidade, o que tem provocado sérios desentendimentos entre os hospitais e a administração municipal.

INFORMAÇÃO DESENCONTRADA
Após a visita dos vereadores, a Santa Casa divulgou o encontro e admitiu a ausência de compromisso do município.  A reportagem de O Norte tentou contato com a diretoria do hospital por dois dias consecutivos, fez mais questionamentos a respeito da gestão plena e do atendimento precário, mas os gestores se recusaram a responder. A nota recebida por este veículo dizia apenas: “A Santa Casa não vai se pronunciar”.

Já a assessoria de comunicação da prefeitura enviou a seguinte nota: “Quando o prefeito tomar uma decisão definitiva sobre a Gestão Plena de Saúde, o prefeito concederá uma entrevista coletiva sobre o assunto”.

Os vereadores lutam agora para que o Hospital das Clínicas Mário Ribeiro seja credenciado para atendimento pelo SUS e, assim, poder assistir aos pacientes que aguardam desesperadamente por cuidados médicos.



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