TEXTO CONVIDADO: MARA NARCISO
A
intimidade automática dos apelidos
Mara Narciso
A
proximidade proporcionada pelas redes sociais assusta aos iniciantes
assediados, mas ao mesmo tempo dão aval insuspeitado aos assediadores. A
confiança deles vai ao topo. Alguns não entendem que aceitar um desconhecido
com amigos em comum para ser contato no Facebook não significa nada, além
disso: ser um contato. A impressão de que o outro está ali para receber todo
tipo de mensagem ou comentário é um equívoco que pode ter vida curta. Ou não,
desde que o assediador não entenda bem o Português. Nesses casos as “carinhas”
ajudam na comunicação, mas boa parte dos usuários diz não entender o que
significam os emojis. Ninguém é tão incapaz intelectualmente que não entenda
esses símbolos. É relativamente fácil deixar clara a distância entre o desejo e
a concretização de uma conquista. A intimidade vem devagar, com a conversa, os
interesses, as trocas intelectuais. Com aqueles que já se conhecem de outros
tempos e locais, pode ser rápida a reaproximação e a descoberta de novas
afinidades.
Outra
situação desagradável é quando se conhece alguém no mundo real e a pessoa, para
forçar uma intimidade que não existe, e poderá não vir a existir, começa a
chamar a outra de “apelidozinhos carinhosos”. Entre os muitos princípios que
norteiam meu comportamento, existem dois que são pétreos: não emprestar
dinheiro e nem chamar as pessoas por apelido, ainda que seja por simpáticos
diminutivos ou formas reduzidas do nome. Eu tenho uma sobrinha chamada Maria
Fernanda e quatro amigas chamadas Maria Luiza. Eu as chamo de Maria Fernanda e
Maria Luiza, nem uma letra a mais, nem a menos. Poucas pessoas são por mim
chamadas por apelidos, assim mesmo quando sejam nomes da infância, ou então
pessoas que são conhecidas, desde a barriga da mãe, por apelidos. Não se trata
de não querer proximidade. Até quero, porém sem chamar por “nicknames”.
Quem
é louco por uma maneira reduzida de falar, que me perdoe, mas eu me incomodo de
ouvir esses aparentes dengos, a meu ver, infantilizados, como quando se fala
apenas a primeira sílaba do nome: Dri, Fê, Ma, Lu, Fá, Lê, Mi e outras
letrinhas. Sou chata, mas ouvir os nomes reduzidos é muito chato também. Gente
que mal se conhece, adere esse hábito de aproximação. Eu não gosto, e nem mesmo
de reduções, como por exemplo, “Nando” para nomear Fernando.
É
natural que se siga um grupo em que todos chamam determinada pessoa pelo
apelido, nome reduzido e carinhoso, mas, mesmo assim vou contra a corrente. Há
casos em que todos chamam de um jeito e eu chamo de outro, e não é para ser
diferente, nem por vontade de impor minhas convicções. Ninguém precisa falar
como eu falo; apenas eu falar já me é suficiente. Todos os colegas chamam
a minha colega anestesista de “Guida”, mas eu nunca a chamei assim. Só falo Margarida.
E isso já tem 44 anos.
Outra
coisa antipática é uma pessoa descobrir como namorados ou marido e mulher se
chamam na intimidade e começam a repeti-los de forma irritante. No caso,
desconfiar e não dar vexame pode ser útil, para evitar o ridículo. Pelo sim,
pelo não, melhor chamar pelo nome de batismo, exceto quando é um nome tão feio
que a própria pessoa peça para não falar. Isso já me aconteceu, e a pessoa era
mais conhecida pelo sobrenome. Quando menina eu era chamada na família por
“Liu”. Quem me chamava assim já morreu. E também por “Marusca”. Salvem-me!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade para deixar seu comentário, sugestão ou crítica, desde que respeitados os limites e a linha do blog, de não exibir conteúdo venal ou ofensivo a quem quer que seja.Postagens anônimas não serão aceitas.Posts de outros autores não refletem necessariamente a opinião do editor.