CONFISSÕES nada
ADOLESCENTES- II
Por Márcia Vieira
Véspera e lançamento. Encontro com meu amigo Tião Martins
em BH, jornalista dos bons, cronista dos ótimos, ser humano dos melhores. Podem
não acreditar, mas dentro da cidade levei exatas três horas pra chegar ao meu
destino. E a copa nem começou! Incrível como a viagem foi muito mais rápida do
que o percurso dentro da cidade. Isso não é coisa pra mim, se estiver com fome.
Mas quando alimentada, sem frio e câmera fotográfica em punho, acho tudo
divertido. Tão acostumada a não descansar, me esqueci que aquilo era um
compromisso pessoal, sem horários rígidos. Por um momento me estressei. Não
existe nada mais chato do que fila que não anda, em todos os sentidos. Como não
era eu quem dirigia, relaxei. E pensei num delicioso cheddar e de como me
acalmaria ao passar por um drive thru do Mc Donalds. Não tem jeito. O cheddar
tem o poder de me desestressar. E nisso, BH é melhor.
Três horas depois consigo abraçar o meu amigo e ter uns
dedos de prosa no confortável sofá amarelo da sua sala. Não sem antes assustar
o Marvin, morador da casa, que ao aparecer na porta ouviu de mim uns bons
impropérios e saiu andando de costas, com medo. Segundo o Tião, atitude inédita
do doce cão. Fiquei com remorso, claro. E voltei pra Montes Claros devendo um
pedido de desculpas ao Marvin.
Coca-cola, fotos, conversas, discordâncias (como sempre) e
o alerta do Tião: “não precisa acelerar amanhã. Acorde com calma e faça tudo
dentro do seu tempo”. Claro que não
consegui desacelerar. O tempo sempre é pouco, curto, diminuto, pro monte de
coisa que desejo fazer. E lá estava eu, dia seguinte, chegando uma hora depois
do combinado. Fiz rasantes em alguns locais, antes de parar onde mais gosto em
BH: Savassi. Lugar nenhum poderia ser melhor para o lançamento de um livro:
Status-Café, Cultura e Arte. Dentro ou fora do espaço, clima ameno e pessoas
alegres, leves, nem aí para o resto do mundo.
Logo dei de cara com o melhor de cada segmento que aprecio:
literatura, cinema, jornalismo, música e afins. Breno Milagres e Elvécio (com E mesmo) Guimarães,
meus amigos e professores de teatro; Tião, sentado com dois amigos, cigarro na
boca e os dedos trabalhando incansavelmente em dedicatórias aos muitos que
adquiriam o livro: “Mineirão”- BH-A Cidade de Cada Um; Os filhos do Tião, que
só agora conheci: João, Paulo e Pedro (todos charmosos e com nomes
santificados); Maninha Pereira, a linda e divertida cunhada do Tião, que já
conhecia de ocasião anterior, aguardando ansiosa a chegada do marido Kao, irmão
do Tião e outra simpatia de pessoa.
Tirei algumas fotos e corri para a turma mais bem humorada
que se encontrava próxima: Symphronio Veiga, Nestor de Oliveira, Mário Ribeiro
(disse a ele: vc roubou o nome do nosso
ex-prefeito!), Marco Otávio (Marão- olha
aí, este também pegou emprestado o apelido), Roberto Elísio e por último
Olympio Coutinho, que sentado, observava a tudo e a todos com um ar blasè de
dar inveja. Bom humor é algo que a mim não passa despercebido, e é a primeira
coisa que me acorre à mente ao recordar qualquer pessoa. A capacidade de rir de
si mesmo e atravessar as intempéries então, é fascinante, atitude inesquecível. A turma aí tinha o humor estampado nos olhos.
No meio de toda essa saudável lambança, faço uma ligação
para o Paulinho Narciso, que deve ter ficado morto de inveja (do bem) por não
estar ali entre os seus amigos de longa data. Paulinho conversou com cada um e
depois com o Tião, personagem central do dia e aglutinador da boa turma. Falamos
sobre tudo e todos. O Roberto Elísio perguntou do Monzeca, da Raquel, esposa do
Paulinho, de Montes Claros e coisinhas mais.
Eis que de repente surge Ian Guedes (filho do Beto Guedes)
pra completar a minha felicidade. Tirei fotos e aguardei a sonoridade das
músicas da nossa terra e canções dos Beatles, que o Ian tocou/cantou. E não
mais que de repente, surge mais Montes Claros: Dodô (Douglas Reis) e Sarah, que
sentaram-se para curtir o movimento e ouvir a boa música. Ele pergunta: “Você
veio com o Fredi? Eu o encontrei agora,
dois quarteirões daqui.” Fredi é o jornalista Fredi Mendes, que estava em BH a
trabalho. Infelizmente não nos encontramos e nem eu sabia que ele estava por
ali. Fredi é divertido e eu adoraria tê-lo encontrado. Não foi desta vez.
Conheci pessoalmente a Cynthia Bernis e a Genoveva Ruiz
Dias, que até então só conhecia de nome, por meio de amigos comuns. As duas
igualmente bem humoradas e calorosas. Chega o kao distribuindo alegria e a
Maninha fica mais sorridente. O Tião, depois de muito escrever, sempre com o
cigarro na boca ou entre os dedos, levanta-se, caminha, conversa, posa para
fotos (um pouco irritado) e então é chegada a hora. Nos despedimos à francesa, permaneço mais um
pouquinho à mesa e rumo ao meu destino.
Belo Horizonte neste momento parece mais calma. O trânsito
sem frenesi, as pessoas menos apressadas, as ruas menos populosas e os
semblantes mais tranqüilos, exceto ao redor do McDonalds da Savassi, onde
adolescentes se aglomeram, fazem barulho e paqueram, aguardando vans para transportá-los ao mega space, onde curtiriam o show da ocasião. Uma coisa não dá pra não
notar: o mau gosto retumbante das roupas/acessórios. É impressionante como a
identidade se perdeu. Todos tem o mesmo nariz esculpido por cirurgião, o mesmo
cabelo, provavelmente forçado no mesmo salão, o mesmo modelo de celular com mil
e duzentas utilidades, e mais uma série de semelhanças que vão desde o modo de
vestir ao falar e agir.
Numa mesma rua, grupos tão díspares convivem
harmoniosamente. Cada um no seu quadrado. Cada um com seus valores ou ausência
de. Sonhos e pesadelos. De um lado
mentes infinitas e brilhantes, de outro, atitudes ilimitadas em mentes
assustadoramente limitadas no intelecto, não pela ausência, mas pelo excesso de
coisas, pela soberania do “ter”, pela falta de zelo com o “ser”. Onde foi? Como
foi? Quando foi que começou tudo isso? Terá fim? Ou será preciso, como disse o
Fernando Yanmar, dizimar para recomeçar??!!
Até breve,
BH!
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