Serra da Capivara e seus mistérios/ Mara Narciso
A BandNews apresentou na semana passada uma série de reportagens sobre o Parque Nacional da Serra da Capivara (criado em 1979), no Piauí. Em tudo o lugar impressiona, desde sua beleza geográfica, cheia de cânions, até seus habitantes do passado, os homens pré-históricos, que segundo a datação com carbono 14 aconteceu desde há 100 mil anos, e os atuais, os macacos-prego que fazem armas de pedra lascada e cutucam frestas com gravetos para capturar bichos vivos.
A UNESCO declarou o lugar Patrimônio da Humanidade em 2014, e a Revista Americana Nature dá valor incontestável ao sítio arqueológico. Reportagens como estas do Jornal da Band fazem os brasileiros querer conhecer esse lugar raro, de onde pululam imagens e objetos únicos.
Os arqueólogos tiram os sapatos antes de pisar o solo sagrado, onde se escavam com escovas de cerdas macias e ferramentas de ourives. Os tesouros capturados são guardados no Museu do Homem Americano, desde restos mortais no chão ou dentro de urnas mortuárias semelhantes a vasos de cerâmica, objetos outros, pedras lascadas como possíveis armas produzidas pelo homem primitivo (resultado de oficinas líticas ou pedras que se desprenderam do teto das cavernas?) e fogueiras petrificadas.
O mais intrigante é a coleção de pinturas rupestres, o maior acervo do mundo, que enfeitam as pedras, feitas de uma tintura avermelhada, retirada no próprio local. Mostram o cotidiano dos antigos moradores, com cenas de beijo, sexo, nascimento, morte e muitas caçadas. A interpretação das imagens ganhou vida pelo uso tridimensional das mesmas. Ficou como uma história em quadrinhos contada há milhares de anos. Inacreditável! Tanto é que os estudiosos americanos não acreditam que o Homo sapiens pudesse estar nas Américas em tempos tão remotos. Mas a prova está lá.
O ambiente é inóspito, seco, de estética impar. Pode-se imaginar, pelas gravuras, a rotina da população do lugar, que, vinda da África, de barco, uma parte dela sofreu um naufrágio, a julgar pelos sinais no solo, indicativos de que ali já foi o fundo do mar, e fragmentos de uma provável embarcação primitiva, com restos mortais arrumados um na frente do outro, como se tivessem morrido dentro de um espaço restrito. Seria uma embarcação?
Há assunto para se ver durante dias, e além das pinturas, os macacos, que são duas centenas, despertam a curiosidade dos cientistas pelo comportamento diferenciado. Surgem entre as pedras, pulando pelas árvores. Formam grupos e passam seus conhecimentos de geração a geração. Quando um deles está comendo, não divide com ninguém, nem mesmo com o filho, e se outro, estando colado, tenta tocar no alimento, explode uma briga.
Ficam parte do tempo batendo duas pedras soltas, até tirar uma lasca. Então, lambem a parte que se rompeu, e a usa como ferramenta para conseguir comida. Apenas os machos arrancam um galho de árvore, tiram as folhas, regulam um tamanho único, e, com a vareta, vão caçar entre as fendas. Comem de tudo, sementes, frutos, insetos, cobras, lagartixas e mais.
Foi encontrada a ossada de uma preguiça gigante, que pesava quatro toneladas e viveu há dez mil anos, num lugar onde o aeroporto já está pronto, e mais incentivo governamental poderia garantir a melhor sobrevivência do Parque Nacional da Serra da Capivara, para saltar de 25 mil para 200 mil visitas turísticas ao ano.
A perfeição da matéria jornalística dá uma sensação de vácuo, quando acaba, um chamariz incontestável.
19 de julho de 2017
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