sábado, 14 de outubro de 2017

JANAÚBA II

JANAÚBA II



Despedida dolorosa

Familiares e amigos prestam as últimas homenagens às vítimas de incêndio em creche

Márcia Vieira e Lucimery Lopes

De Janaúba
07/10/2017 - 08h23 - Atualizado 08h27
 


Um dia após a tragédia de Janaúba moradores da cidade viveram a dor de sepultar as vítimas. Das nove pessoas que morreram após o vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, atear fogo no corpo em uma sala de aula repleta de crianças, sete foram sepultados ontem em Janaúba.

 
















Pela manhã, o enterro do menino Luiz David Rodrigues, de 4 anos, levou centenas de pessoas ao cemitério Campo da Paz. Uma delas foi a prima dele Luiza Mariana Rodrigues. Da relação com o pequeno, ela se recorda de uma das frases mais usadas por ele: “tia, tira foto”. Luiza sempre atendia ao pedido. Na véspera da tragédia, ela fez o último registro do sobrinho e guarda com carinho no celular que ele gostava de mexer. “Ele era uma criança muito alegre. Toda a família está arrasada”, diz.

No começo da tarde, foi a vez de familiares e amigos se despedirem do menino Juan Pablo Cruz dos Santos, de 4 anos. Ele ganhou do pai um presente no dia que antecedeu a tragédia: um violãozinho azul. Poucos minutos antes do sepultamento, Paulo Pereira, pai de Juan, se sentou na cama de casal em que dormia com a esposa e o filho e dedilhou as cordas do brinquedo. “Como é que vamos viver sem ele?”, perguntava. Ao fechar o caixão, colocou o brinquedo junto ao corpo e chorou. 

Gracilene Neves tem filhos gêmeos e ambos estavam na creche na hora do atentado. Nenhum dos dois se feriu, mas ela se comoveu diante da dor das outras mães. “Tenho muito que agradecer a Deus por não ter acontecido nada a meus filhos, mas a gente não deixa de sentir pelas outras famílias”, disse.

MATERNAL E FELIZ

Ao cair da tarde, o corpo de Heley Abreu Batista, de 43 anos, foi levado pelo Corpo de Bombeiros em cortejo pelas ruas da cidade, em um tratamento digno de uma heroína, já que ela conseguiu retirar várias crianças da creche em chamas pela janela, antes de ter 100% do corpo queimado. O marido, Luiz Abreu, fez um breve discurso. “Fico triste por nos despedirmos dela, mas sei que ela viveu como manda a lei de Deus”, disse. 

Em toda a cidade a personalidade maternal e dedicada da professora era lembrada. “Ela era uma pessoa maravilhosa. Dotada de virtudes e valores humanos como ninguém. Deu a vida pelo próximo. Foi essa a missão dela aqui”, disse a amiga Luzinete Santos.

DISCRIÇÃO
As multidões que seguiam os cortejos das vítimas contrataram com o sepultamento do vigia que ateou fogo na creche. Damião Soares dos Santos também foi enterrado ontem, de maneira discreta, sem a presença de familiares, em uma cova anônima sem qualquer identificação ou cerimonia. “Ninguém da família compareceu ao enterro”, disse o coveiro Miguel Fernandes.

Vanderley Nunes da Rocha, trabalha em um restaurante da cidade conhecia pouco sobre o homem que vivia sempre calado e parecia inocente aos olhos de quem via. “Eu conhecia ele da entrega de sorvete. Sempre calado e quieto”, diz o funcionário do restaurante ainda sem acreditar.

José Ferreira dos Santos que também é vigia em uma empresa privada relatou que no momento da tragédia ajudou a socorrer algumas crianças e ao falar sobre o autor do crime fica emocionado e ao mesmo tempo irritado como tudo aconteceu. “Ele não cumprimentava ninguém. Era muito esquisito e com certeza tinha algum problema”, diz muito revoltado.


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